Massa Ralada: Tradição Doce da Pastelaria Portuguesa

A massa ralada é uma das massas mais emblemáticas da doçaria portuguesa, sobretudo no contexto das tartes, empadas doces e sobremesas conventuais. Rica, amanteigada e delicadamente areada, esta massa é usada tanto como base como cobertura de diversas receitas regionais.

Embora menos conhecida internacionalmente que a massa folhada ou a massa quebrada, a massa ralada é profundamente enraizada na tradição portuguesa, e continua a ser uma das favoritas nos cadernos de receitas familiares.

Uma Receita com História

A origem da massa ralada confunde-se com a evolução das massas doces da pastelaria europeia. Em Portugal, ganhou nome próprio pelo seu modo de preparação: a massa, depois de repousada, é ralada grosseiramente sobre o recheio, formando uma cobertura leve e crocante após a cozedura.

Muito popular no século XIX e início do século XX, especialmente em receitas conventuais e de influência aristocrática, a massa ralada era frequentemente utilizada em tartes de chila, doce de ovos ou marmelada, sobretudo nas regiões do Centro e Alentejo. O seu aspeto rústico e sabor rico mantêm-na viva até hoje nas cozinhas tradicionais.

Ingredientes (para 10 pessoas)

Esta receita é suficiente para uma tarte de 26–28 cm de diâmetro, servindo confortavelmente 10 fatias generosas:
  • 400 g de farinha de trigo sem fermento
  • 150 g de açúcar
  • 200 g de manteiga sem sal (fria, cortada em cubos)
  • 2 gemas de ovo
  • 1 ovo inteiro
  • 1 colher de chá de raspa de limão (opcional)
  • 1 pitada de sal
Opcional: uma colher de sopa de aguardente ou vinho do Porto, para dar aroma e suavidade à massa.

Preparação Passo-a-Passo

1. Misturar os ingredientes secos

Num recipiente grande, coloque a farinha, o açúcar e a pitada de sal. Misture bem com uma colher ou com as mãos.

2. Incorporar a manteiga

Adicione os cubos de manteiga fria e trabalhe a mistura com as pontas dos dedos, até obter uma textura areada, semelhante a migalhas grossas. Este processo é essencial para que a massa fique leve e crocante após a cozedura.

3. Adicionar os ovos

Junte as gemas, o ovo inteiro e a raspa de limão. Se quiser, adicione também a aguardente. Misture tudo rapidamente, apenas até formar uma massa homogénea. Evite amassar em excesso, para não desenvolver o glúten da farinha, o que tornaria a massa dura.

4. Dividir e refrigerar

Divida a massa em duas partes: uma ligeiramente maior para a base e outra para ralar por cima. Embrulhe em película aderente e leve ao frigorífico por pelo menos 1 hora. Este repouso é essencial para que a massa ganhe estrutura e seja mais fácil de trabalhar.

5. Forrar a tarteira

Retire a parte maior da massa e estenda-a com o rolo, entre duas folhas de papel vegetal, até formar um círculo com cerca de 0,5 cm de espessura. Forre a tarteira, pique o fundo com um garfo e reserve no frio.

6. Adicionar o recheio

Coloque o recheio escolhido sobre a base. A massa ralada combina especialmente bem com recheios doces densos, como doce de ovos, chila, marmelada, maçã cozida ou requeijão com açúcar e canela.

7. Ralar a massa

Com um ralador grosso (tipo queijo), rale a segunda parte da massa por cima do recheio, distribuindo de forma uniforme e generosa. A aparência final deve ser rústica e irregular — esse é o charme da massa ralada.

8. Cozer no forno

Leve a tarte ao forno pré-aquecido a 180 °C, durante cerca de 35 a 40 minutos, ou até a massa estar dourada e firme. Retire, deixe arrefecer e sirva à temperatura ambiente ou ligeiramente morna.

Sugestões de Recheio

A massa ralada é extremamente versátil, combinando com múltiplos recheios doces. Algumas sugestões clássicas e modernas incluem:

Tradições Portuguesas
  • Tarte de doce de ovos com chila – uma combinação conventual de eleição;
  • Tarte de marmelada – particularmente popular no Outono;
  • Recheio de maçã com canela – simples, aromático e sempre agradável;
  • Doce de gila com amêndoa – típico de receitas conventuais alentejanas.
Versões Modernas
  • Recheio de requeijão com mel e noz, para um toque rústico e sofisticado;
  • Compota de frutos vermelhos com creme de baunilha, para contraste ácido-doce;
  • Ganache de chocolate com flor de sal, para um toque contemporâneo e elegante;
  • Creme de limão com framboesa, fresco e vibrante.
Dicas para o Sucesso
  • Manteiga fria é essencial – para garantir a textura certa e o sabor amanteigado;
  • Evite trabalhar demasiado a massa, para que fique leve e friável;
  • Rale a massa directamente sobre o recheio, para uma distribuição natural e uniforme;
  • Pode congelar a massa já preparada, para usar noutra ocasião;
  • Polvilhe com açúcar em pó antes de servir, para um acabamento bonito.
Conclusão

A massa ralada é um tesouro da doçaria portuguesa, com raízes familiares e um sabor que atravessa gerações. Ao mesmo tempo rústica e elegante, oferece uma textura crocante e rica que se equilibra lindamente com recheios doces, sejam eles clássicos ou criativos.

Ideal para dias festivos, lanches de domingo ou simplesmente para aproveitar ingredientes da época, a massa ralada é uma receita que vale a pena dominar — pela sua simplicidade, versatilidade e sabor intemporal.

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