Corantes Alimentares: A Cor que se Come

Vivemos num mundo onde a aparência conta — e no universo alimentar, essa regra não é exceção. A cor dos alimentos influencia de forma directa a nossa percepção de sabor, frescura e qualidade. É por isso que a indústria alimentar recorre a corantes: para realçar, uniformizar ou mesmo criar cores que atraiam o olhar e estimulem o apetite.

Mas que tipos de corantes existem? São todos seguros? E qual o seu real impacto na alimentação moderna?

O que são corantes alimentares?

Os corantes alimentares são aditivos utilizados para alterar ou intensificar a cor dos alimentos e bebidas. Não têm função nutricional e não influenciam o sabor, mas actuam sobre um dos sentidos mais influentes no momento da escolha: a visão.

Muitos produtos perderiam o seu apelo visual se fossem apresentados na sua forma original após o processamento — pálidos, desbotados ou acastanhados. Os corantes vêm compensar essas perdas.

Porque se usam corantes na indústria?

A utilização de corantes tem várias finalidades:
  • Restaurar a cor perdida durante o processamento (como cozedura ou pasteurização).
  • Uniformizar a aparência de lotes diferentes de produção.
  • Compensar variações sazonais de cor natural nos ingredientes.
  • Tornar os produtos mais atractivos, principalmente para crianças.
  • Identificar sabores por associação de cor (ex: morango = rosa/vermelho).
Sem corantes, muitas gomas seriam acinzentadas, os refrigerantes teriam tons indefinidos e os iogurtes de fruta pareceriam leite tingido.

Tipos de corantes alimentares

Os corantes são classificados em duas grandes categorias: naturais e sintéticos.

1. Corantes naturais

Derivam de fontes vegetais, animais ou minerais. São muitas vezes preferidos por consumidores que procuram opções mais “limpas” e menos artificiais.

Alguns exemplos:
  • Curcumina (E100): extraída da curcuma, dá cor amarela.
  • Carotenos (E160a): provenientes da cenoura e outras plantas, usados para tons alaranjados.
  • Beterraba (E162): confere tons vermelhos e rosados.
  • Clorofila (E140): cor verde, extraída de folhas.
  • Carvão vegetal (E153): cor preta ou cinza escura.
Embora mais naturais, estes corantes podem ser menos estáveis (sensíveis à luz, temperatura ou pH) e, por isso, mais difíceis de aplicar em certos produtos.

2. Corantes artificiais (sintéticos)

São produzidos em laboratório, com base em compostos orgânicos. Têm como vantagens a intensidade de cor, estabilidade e baixo custo.

Exemplos comuns:
  • Tartrazina (E102): amarelo brilhante.
  • Azorrubina (E122): vermelho rosado.
  • Azul Brilhante FCF (E133): azul intenso.
  • Verde S (E142): verde esmeralda.
No entanto, alguns corantes sintéticos têm sido associados a reações adversas, como alergias ou hiperactividade em crianças, o que levou à sua proibição ou limitação em vários países.

Segurança e legislação

Na União Europeia, todos os aditivos — incluindo os corantes — estão regulamentados pelo Regulamento (CE) n.º 1333/2008. Apenas os corantes que passaram por avaliação rigorosa da EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar) podem ser utilizados.

Além disso:
  • Cada corante tem uma dose diária admissível (DDA).
  • Os produtos que contêm certos corantes artificiais devem incluir no rótulo a advertência:
    “pode afectar negativamente a actividade e a atenção das crianças”.
A legislação europeia também impõe a obrigatoriedade de rotulagem clara, identificando o corante pelo seu nome ou código E (ex: E129).

Alimentos que mais usam corantes

Os corantes são amplamente usados nos seguintes produtos:
  • Rebuçados, gomas e gelados
  • Sumos e refrigerantes
  • Iogurtes e sobremesas lácteas
  • Cereais de pequeno-almoço
  • Produtos de pastelaria industrial
  • Sopas e molhos instantâneos
  • Produtos para crianças (bolachas, gelatinas, cereais)
Nestes casos, a cor não é apenas decorativa: faz parte do branding, da identidade do produto e da experiência sensorial esperada pelo consumidor.

Tendências actuais e alternativas naturais

Nos últimos anos, verifica-se uma clara tendência para reduzir ou eliminar os corantes artificiais, sobretudo em produtos para crianças.

Alternativas mais recentes incluem:
  • Extrato de spirulina: cor azul natural.
  • Antocianinas: corantes obtidos de frutos vermelhos, como mirtilo ou cereja.
  • Paprika e urucum: usados para tons laranja e vermelho.
  • Carvão activado vegetal: muito usado em pastelaria moderna (ex: gelados e macarons pretos).
Embora mais dispendiosas e menos estáveis, estas opções têm a vantagem de serem percebidas como mais saudáveis e autênticas.

Controvérsia e percepção do consumidor

Os corantes artificiais continuam a gerar controvérsia:
  • Alguns consumidores desconfiam de códigos E e preferem produtos sem corantes.
  • A ligação entre certos corantes e distúrbios comportamentais em crianças levou a um maior escrutínio.
  • A presença de corantes pode ser vista como sinal de "produto altamente processado".
Muitas marcas têm vindo a reformular os seus produtos, eliminando corantes desnecessários ou optando por “rótulos limpos” — sem aditivos sintéticos.

Conclusão

Os corantes alimentares fazem parte do imaginário da alimentação moderna. São responsáveis por tornar os alimentos visualmente apelativos e coerentes com as expectativas dos consumidores. No entanto, é essencial que o seu uso seja feito com transparência, responsabilidade e equilíbrio.

Como consumidores, temos o direito de saber o que estamos a comer — não apenas pelos ingredientes visíveis, mas também pelos aditivos que influenciam o sabor e a aparência sem serem percebidos.

Optar por alimentos com corantes naturais, ou melhor ainda, com cor natural derivada dos próprios ingredientes, pode ser uma escolha mais consciente — não apenas para o paladar, mas também para a saúde.

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