O Homem Livre

Bem-aventurado aquele que caminha sem destino imposto, que não deve nada ao relógio nem ao calendário, e pode chamar "seu" a cada instante do dia. Aquele que, livre de mulher e filhos—não por desamor, mas por escolha ou acaso—pode sentar-se à sombra de uma árvore, com um copo de vinho, e brindar ao simples facto de estar vivo.

Porque há liberdade que não se grita, apenas se vive. Há alegria que não se publica, apenas se sente.

O homem livre não foge do mundo. Não se esconde da dor, nem da ternura. Carrega o sofrimento dos outros no olhar, escuta em silêncio, ajuda sem alarde.

É livre, sim, mas por dentro guarda cada história, cada perda, cada riso que lhe foi oferecido. Nunca amarrou ninguém ao seu destino, e por isso, caminha leve.

Não há correntes, nem promessas a prazo, nem medo do amanhã. O que tiver de ser, virá. E o que vier, será bem-vindo.

A Liberdade como Estado de Espírito

Vive na tempestade e no sol, como quem conhece ambas por igual. A chuva não o assusta, o calor não o embriaga.

Aprendeu que tudo passa, e por isso não se agarra. Não coleciona dores, nem espera por dias melhores.

Vive este. Agora. Porque percebeu, à sua maneira, que cada instante é uma casa que só se habita uma vez.

Gastou a dor. Inteira. Não deixou sobras. Chorou o que havia a chorar, sofreu o que tinha de sofrer.

Agora, quando sorri, é de verdade. E quando fica em silêncio, é porque encontrou paz.

Já não precisa de perguntar muito—o tempo ensinou-lhe que nem todas as respostas vêm em palavras.

Algumas chegam num olhar, outras com o vento a soprar nas folhas, outras ainda com o simples repousar de uma mão sobre o peito.

A Essência do Homem Livre

Não é santo, nem herói. É homem. Um bom homem.

Um que não se esqueceu de si para agradar ao mundo. Que não trocou os sonhos por títulos.

Que não se perdeu no ruído. Um homem que soube parar. Respirar. Ser.

E é isso que o torna livre. Não o facto de andar só, mas o de nunca se esquecer de viver—por inteiro.

Porque há quem viva rodeado de gente e se sinta vazio. E há quem, mesmo só, esteja pleno.

Ele está. E por isso, é feliz. Sem espetáculo. Sem necessidade de provar nada a ninguém.

Liberdade: Escolha ou Destino?

O homem livre não é aquele que escapa às responsabilidades, mas sim aquele que as aceita sem que elas o aprisionem.

A sua liberdade não reside na solidão, mas na ausência de amarras. Não depende do mundo externo, mas da paz interna.

Talvez, no fundo, a verdadeira liberdade não seja apenas um direito, mas uma escolha consciente—a escolha de não ceder ao que sufoca, de não se perder no que é passageiro.

E talvez essa escolha seja, hoje, a maior forma de santidade.

by pedro de melo, 2019

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