Schwetzingen: A Capital Mundial dos Espargos
O ano de 1871 marcou um ponto de viragem para os espargos cultivados na Alemanha. Nesse ano, em Schwetzingen, foi estabelecida uma grande plantação de 24 hectares, o embrião daquilo que viria a tornar-se uma das zonas de cultivo de espargos mais prestigiadas do mundo.
Claro que a fama dos espargos de Schwetzingen não se deve apenas ao solo fértil e ao clima favorável da região. O segredo esteve, sobretudo, no desenvolvimento de variedades de excelência, altamente produtivas e de qualidade superior.
Estes espargos brancos tornaram-se tão famosos que a cidade passou a ser conhecida como a "capital dos espargos".
Do Mercado Diário ao Monumento
Desde 1894, durante a época de colheita, Schwetzingen organizava um mercado diário de espargos na Schlossplatz, em frente ao palácio.
Esse mercado, que durante décadas atraiu produtores e gourmets, hoje já não existe — mas um monumento recorda a sua importância histórica.
Atualmente, não é preciso ir a Schwetzingen para saborear os espargos brancos mais frescos.
Graças a um sistema de distribuição direta e a mercados grossistas organizados, estes espargos chegam todos os dias às prateleiras de lojas e restaurantes por toda a Europa durante a época de cultivo.
Antes de Schwetzingen: O Cultivo Espalha-se pela Europa
Embora Schwetzingen tenha ganho fama mundial, o cultivo organizado de espargos já existia noutros locais europeus muito antes do seu apogeu.
Eis alguns marcos históricos surpreendentes:
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Suécia (1720): Espargos cultivados já eram vendidos em mercados locais.
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Berlim (1744), Brandemburgo (1745) e Noruega (1746) seguiram o mesmo caminho.
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Hamburgo (1790): Quase um século antes da primeira colheita comercial em Schwetzingen, os jardineiros Luk e Knauer estabeleceram grandes plantações nos arredores da cidade.
A Instrução que Mudou Tudo
A verdadeira revolução técnica surgiu com a publicação, em 1781, de um livro pioneiro:
"Instruções breves para cultivar espargos a baixo custo e com grande beleza", da autoria de Christoph Friedrich Seidel, conselheiro do Alto Principado de Brandemburgo.
Seidel foi o primeiro a descrever em detalhe o método de produção dos espargos brancos.
A técnica consistia em amontoar terra sobre os espargos durante o crescimento, impedindo que a luz solar ativasse a síntese de clorofila, responsável pela cor verde.
O resultado? Espargos de sabor mais delicado, textura suave e, sobretudo, com um ar nobre que conquistava os paladares mais exigentes.
Espargos Verdes vs. Espargos Brancos
Antes de Seidel, só se colhiam espargos verdes, deixados ao sol até atingirem o tamanho desejado. Eram mais robustos, intensos no sabor e, durante muito tempo, mais populares.
Mesmo após a introdução do método dos espargos brancos, foi preciso esperar várias décadas até que se tornassem comercialmente relevantes.
Apesar disso, os espargos verdes nunca desapareceram — e ainda hoje são consumidos lado a lado com os brancos, cada um com os seus entusiastas.
A Revolução das Conservas: Um Impulso Final
O avanço decisivo no sucesso dos espargos brancos deu-se em 1804, graças ao francês Nicolas Appert, considerado o pai da conservação de alimentos.
Appert inventou um método de esterilização que permitia armazenar legumes — entre eles, os espargos — por longos períodos sem perda de qualidade.
Isto tornou possível o transporte em larga escala, ajudando os espargos brancos a atingir mercados internacionais.
Eram, afinal, um dos poucos vegetais suficientemente delicados e apreciados para justificar o investimento em técnicas de conservação inovadoras.
Conclusão
A história dos espargos brancos não é apenas uma curiosidade botânica — é também um retrato fascinante de como a inovação, a paciência e a cultura gastronómica moldam o mundo que nos rodeia.
De uma simples planta medicinal escondida nos mosteiros à glória dos campos de Schwetzingen, os espargos brancos conquistaram reis, inspiraram cientistas e criaram tradições locais que duram até hoje.
E da próxima vez que estiveres a saborear um prato de espargos delicadamente preparados, lembra-te: estás a provar um pedaço de história — verde ou branco, mas sempre nobre.