O Sal de Rio Maior: Tradição e Sabor das Salinas Centenárias

O sal é, desde sempre, um elemento vital da alimentação humana e um recurso com forte impacto cultural e económico. Em Portugal, onde o mar molda tradições e sabores, existem também tesouros salgados longe da costa. Um desses casos únicos é o Sal de Rio Maior, proveniente de salinas interiores que contam uma história milenar. Neste artigo, exploramos a origem, a produção e a importância gastronómica e cultural deste sal singular.

Uma Salina a 30 km do Mar

As Salinas Naturais de Rio Maior localizam-se na encosta da Serra dos Candeeiros, no distrito de Santarém. Aparentemente contraditório, este complexo salineiro situa-se a cerca de 30 quilómetros do oceano Atlântico, o que levanta a pergunta: como se produz sal marinho tão longe do mar?

A resposta está na existência de um lençol freático salino subterrâneo, alimentado por um antigo oceano que ali existia há milhões de anos. A água salgada — sete vezes mais concentrada do que a água do mar — brota naturalmente de um poço e é canalizada para tanques de evaporação. Ao evaporar-se ao sol, essa água dá origem ao famoso Sal de Rio Maior, com características únicas.

Um Processo Artesanal e Sustentável

A produção do sal é feita de forma artesanal e manual, praticamente inalterada desde o século XII. A estrutura das salinas mantém-se tradicional, com tanques em pedra e madeira, cuidadosamente mantidos pelas famílias salineiras que ali trabalham geração após geração.

A água é retirada do poço central e distribuída por pequenos compartimentos denominados talhos, onde evapora lentamente com a ajuda do calor solar. O sal é colhido manualmente com recurso a ancinhos e enxadas de madeira, sendo depois seco ao sol e armazenado em montes cónicos.

Este processo é ecológico e sustentável, utilizando exclusivamente os recursos naturais — sol, vento e a salmoura ancestral — sem qualquer tipo de aditivo químico.

História das Salinas de Rio Maior

A existência das salinas remonta, pelo menos, ao ano de 1177, data da doação das terras à Ordem de Santiago. No entanto, acredita-se que o uso da água salgada para extração de sal possa ser ainda mais antigo, remontando a períodos pré-romanos.

Durante séculos, o sal de Rio Maior foi uma importante moeda de troca, contribuindo para a economia da região. A sua importância estratégica levou mesmo à sua defesa militar em tempos medievais. Ao longo dos tempos, as salinas foram resistindo às mudanças sociais e tecnológicas, preservando uma identidade cultural e comunitária rara nos dias de hoje.

Atualmente, são não só um local de produção, mas também um ponto turístico de relevo, onde se pode visitar lojas, restaurantes, e observar o trabalho dos salineiros em plena atividade.

Características do Sal de Rio Maior

O Sal de Rio Maior distingue-se por várias características que o tornam especial tanto para os consumidores domésticos como para chefs profissionais:
  • Pureza: por não ser refinado, mantém minerais naturais como cálcio, magnésio e potássio;
  • Textura crocante: os cristais são mais irregulares, conferindo uma crocância agradável quando usados como finalização;
  • Sabor equilibrado: a sua concentração natural e a ausência de químicos tornam o sabor mais limpo e suave;
  • Versatilidade: pode ser usado em cozeduras, grelhados, marinadas e como toque final em pratos gourmet.
Além do sal tradicional, também é possível encontrar flor de sal de Rio Maior, recolhida delicadamente da superfície dos talhos em condições muito específicas. Esta forma mais leve e delicada de sal é ideal para pratos finos, como saladas, carnes grelhadas e até sobremesas com chocolate ou caramelo.

Património Gastronómico e Cultural

Em tempos de industrialização da alimentação, o Sal de Rio Maior representa um regresso à autenticidade e à ligação direta com a natureza e com as pessoas. Mais do que um simples produto, este sal é um símbolo de resistência cultural, saber ancestral e qualidade.

As salinas fazem parte do Inventário Nacional do Património Imaterial e integram roteiros turísticos ligados à natureza, ao património rural e à gastronomia portuguesa. Aliando tradição e inovação, algumas empresas locais têm apostado na criação de produtos aromatizados, como sal com ervas, pimentas ou especiarias, valorizando ainda mais esta matéria-prima portuguesa.

Impacto na Economia Local

A produção e comercialização do Sal de Rio Maior contribui para manter vivas dezenas de postos de trabalho sazonais e permanentes. Além disso, o crescimento do turismo nas salinas permite dinamizar o comércio local, a restauração e a oferta cultural da região.

Trata-se, assim, de um exemplo claro de como a economia circular e o respeito pelo património podem gerar desenvolvimento sustentável.

Conclusão

O Sal de Rio Maior é muito mais do que um tempero. É um testemunho vivo da história, da geologia e da cultura portuguesa. Produzido em harmonia com a natureza, com o saber dos antigos, e com um respeito profundo pela autenticidade, continua a conquistar cozinhas em Portugal e no estrangeiro.

Se ainda não o conheces, talvez seja tempo de o experimentares — seja na tua cozinha, numa visita às salinas ou numa receita onde o sabor se eleva pela simplicidade. Porque, no fundo, há sal... e há Sal de Rio Maior.

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