A gastronomia evoluiu paralelamente à história da humanidade, refletindo transformações sociais, culturais, económicas e tecnológicas. Desde os tempos mais remotos até a era contemporânea, a maneira como o ser humano prepara, consome e interpreta os alimentos mudou profundamente.

Na pré-história, a alimentação era rudimentar e baseada na caça, pesca e coleta. O domínio do fogo foi o primeiro grande marco na evolução gastronômica, permitindo a cozedura dos alimentos e melhorando sua digestibilidade. Com a Revolução Agrícola (cerca de 10.000 a.C.), o homem passou a cultivar cereais e legumes e a domesticar animais, estabelecendo uma base para cozinhas regionais.

As grandes civilizações antigas — Egito, Mesopotâmia, Índia, China, Grécia e Roma — trouxeram sofisticação à gastronomia. Os egípcios valorizavam o pão e a cerveja, enquanto os romanos criaram banquetes com vários pratos, molhos e especiarias importadas. A gastronomia tornava-se um símbolo de status e poder.

Na Idade Média, a cozinha europeia ficou marcada pelo uso intenso de especiarias (pimenta, canela, noz-moscada), trazidas do Oriente. Comer era também um ato ritualizado, muitas vezes ligado à Igreja. Já nos mundos islâmico e asiático, floresciam técnicas como a destilação, o uso de ervas aromáticas e o refinamento do arroz e do chá.

O Renascimento impulsionou a arte da cozinha, especialmente na Itália e França, sendo que a cozinha francesa posteriormente se tornaria referência mundial; com as Grandes Navegações (séculos XV e XVI), ocorreu um intercâmbio global de ingredientes — o chamado "Colombian Exchange": tomate, batata, cacau, milho e pimenta chegaram à Europa, enquanto cavalos e trigo foram levados às Américas.

A Revolução Industrial trouxe novas tecnologias — como a refrigeração, a conserva e o forno moderno —, democratizando o acesso a alimentos processados e acelerando a urbanização alimentar. Surgem também os primeiros restaurantes modernos no século XVIII, em Paris.

No século XX, a globalização e a ciência alimentícia modificaram ainda mais a gastronomia. Fast food, dietas industriais e, mais recentemente, a gastronomia molecular e a valorização da comida sustentável e artesanal transformaram o cenário culinário. O século XXI vive uma redescoberta de raízes locais e biodiversidade, promovendo uma cozinha mais ética, consciente e inclusiva.

Assim, a gastronomia é um reflexo da história humana — uma narrativa saborosa que combina cultura, ciência, arte e identidade.

O MERCADO INTERNACIONAL

Veneza foi, durante muito tempo, o centro do comércio europeu. Era para lá que chegavam as especiarias vindas do Oriente, altamente apreciadas pelos senhores ricos da época. Esse comércio extremamente lucrativo só terminou em 1494, quando os franceses, sob ordens do rei Carlos VIII, invadiram a Itália, transformando-a em um campo de batalha por duas gerações. A partir desse momento, uma nova ordem europeia foi estabelecida, com a França emergindo como a grande potência.

Na Península Ibérica, iniciavam-se então as viagens das descobertas portuguesas e espanholas, que trouxeram para a Europa bens até então desconhecidos, como milho, chocolate, amendoim, baunilha, colorau, ananás, batata e muitos outros.

No século XVIII, ocorreu o grande avanço da arte culinária moderna. Embora ainda fosse um privilégio dos grandes senhores, a criação, confeção e aperfeiçoamento das receitas estavam a cargo de cozinheiros privados, que se dedicavam exclusivamente à cozinha de seus patrões. Essa estrutura consolidada foi radicalmente alterada pela Revolução Francesa, que modificou o espectro da sociedade, acabou com as grandes casas e impérios familiares e religiosos e colocou muitos cozinheiros no desemprego.

Essa nova realidade motivou aqueles com maior aptidão para o negócio a abrirem seus próprios estabelecimentos, dando origem ao conceito de restaurantes modernos.