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OFioDaNavalha |
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Os Dias Diferentes… Há quase um ano, as primeiras notícias começaram a surgir. Era dezembro de 2019. Falava-se, timidamente, na imprensa internacional, de um vírus desconhecido que teria infetado alguns habitantes de uma cidade chinesa. Uma cidade que, para muitos de nós, era um nome estranho, longínquo, quase irreal. Hoje, Wuhan é um nome gravado na História — não como um simples ponto no mapa, mas como o início de uma nova era. Uns meses depois, as mesmas manchetes alarmavam a Europa: os primeiros casos de infeção estavam confirmados. Itália, mais concretamente o Norte, tornava-se o primeiro epicentro europeu. Porquê ali? Porque existe uma forte comunidade chinesa? É possível. Mas acredito que as razões vão além disso. O Norte da Itália é o motor económico do país. É uma porta de entrada para a Europa Central. De Milão partem voos, ideias, negócios. À direita, o Báltico, a Suíça, a Áustria, a Alemanha. À esquerda, a França, a Espanha… e nós, Portugal. Milão, com as suas feiras, congressos, eventos internacionais — uma das cidades mais visitadas da Europa. Ali, o mundo tocava-se. E por isso, foi também ali que o vírus encontrou caminho. Até então, olhávamos com estranheza para os asiáticos mascarados que encontrávamos nos aeroportos. Cruzávamo-nos com eles e surgiam os pensamentos silenciosos: "Será que está doente?" "Terá alguma alergia?" Pareciam extraterrestres em mundos limpos. Nós, os “normais”, sem máscaras. Eles, os “estranhos”, protegidos. Hoje, somos todos eles. Mascarados. Sem alergias. Sem estarmos doentes. Mas com medo. Com dúvidas. Com os braços cortados. As expectativas, os planos, as esperanças — todos suspensos. Os meses passaram. A rotina mudou… Ou melhor: foi substituída por um dia-a-dia sem perspetiva. Uns matam o tempo na monotonia. Outros matam-se, literal ou emocionalmente. Há quem vá morrendo aos poucos, sem nunca ter testado positivo. A pandemia não precisa de tocar o corpo para afetar a alma. A pandemia tornou-se democrática. Chegou a todos. Instalou-se no povo. Tomou conta de nós. E no meio disto tudo, surgem revoltas esporádicas, gritos de inconformismo, mas também silêncios pesados e resignados. São poucos os que ainda gritam. A maioria nem sabe se aquilo por que luta é o melhor. Vida normal? Confinamento? Estado de emergência? Com máscara, sem máscara? Abrir? Fechar? Manter? Nada é claro. Nada é certo. O mundo está suspenso entre o medo e a sobrevivência. Vivemos tempos de conversa circular. O vírus, a pandemia, as vacinas, os números, o teletrabalho, o ensino remoto, o medo do toque, a distância social… São os novos temas de café — só que agora, sem café. Sem abraços. Sem gargalhadas soltas. A pandemia nivelou-nos. Mas não pela igualdade — pela vulnerabilidade. Ricos, pobres, instruídos, ignorantes, crentes, ateus… Todos de máscara. Todos assustados. Todos à espera que “isto” acabe. Mas ninguém sabe bem o que virá depois. São dias diferentes. E não apenas porque usamos gel desinfetante, ou porque já não damos beijos na face, ou porque o telemóvel substituiu o aperto de mão. São dias diferentes porque já não confiamos no amanhã. Antigamente, dizíamos "até amanhã" como promessa segura. Hoje, dizemo-lo com hesitação. Porque o amanhã já não é certo. E isso muda tudo. Talvez estejamos a viver uma travessia. Um deserto emocional, social, até espiritual. Talvez, quando olharmos para trás, consigamos ver que estes dias diferentes nos ensinaram algo. Talvez nos tenham ensinado a valorizar o que era banal. O abraço. O café da manhã com os amigos. O cheiro da rua. O som das crianças na escola. O trânsito da cidade. A liberdade de sair sem pensar duas vezes. A ausência de medo. Se tudo isto nos ensinar alguma coisa — então estes dias diferentes não terão sido só dias perdidos. Serão páginas importantes da nossa história. Da nossa humanidade. Da nossa memória coletiva. Porque há dias que se contam… Mas há outros que nos contam a nós. |
by pedro de melo |
“ OFioDaNavalha” |
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crónicas distantes, sem tempo, sem nexo, para usares e abusares... copia, altera, faz tuas as minhas palavras... | |
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Não me roubem o mar... |
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by pedro de melo, aquele a quem, em 2020, roubaram o mar... |