Onde Fui Quando Desapareci? A arte de desaparecer… mesmo estando presente Ninguém repara logo. Nem sempre damos sinais. Continuamos a ir ao trabalho. A sorrir nas conversas. A responder mensagens com emojis que disfarçam. Mas por dentro… já fomos. Fomos embora sem fazer malas. Desligámos o interruptor da alma — e continuámos ali, só no corpo. Foi quando desapareci… e quase ninguém notou. Nem eu. Não foi fuga. Foi sobrevivência. Desaparecer não é sempre escolha. Às vezes é a única forma que encontramos para não gritar. Para não implodir. Para não ferir. A mente vai a lugares que o corpo não acompanha. Criamos zonas de silêncio interno onde ninguém entra. E ali, protegemo-nos. Recolhemo-nos. À espera de que passe. De que doa menos. De que alguém venha — ou não. Onde estive esse tempo todo? Sei lá. Estive em pensamentos densos e sem trilho. Em vontades interrompidas. Estive naquele lugar onde as palavras não chegam e o cansaço tem nome próprio. Estive num sítio dentro de mim onde nem eu queria entrar… mas entrei. Não me perdi por completo. Mas também não me encontrava. Era como viver atrás de um vidro. Via o mundo… mas sem conseguir tocá-lo. O cansaço que não se vê Há um tipo de cansaço que não se cura com sono. Um vazio que não se preenche com coisas. É o cansaço de manter uma versão de nós que já não somos. Fui desaparecendo aos poucos. No "está tudo bem", no "vai passar", no "já não importa". Mas importava. E muito. Quando comecei a voltar Voltar não é um evento. É um processo. Uma pequena coragem por dia. Uma escolha por vez. Voltei aos poucos. No dia em que consegui sair da cama com vontade. No momento em que disse “não” sem me sentir culpado. Na lágrima que deixei cair sem pedir desculpa por ela. Voltei quando aceitei que não tinha de ser sempre forte. E que desaparecer, às vezes, é só uma pausa necessária para continuar. As pessoas acham que desaparecer é egoísmo Talvez seja. Mas também é um grito mudo. Um pedido de espaço. De tempo. De ar. Desaparecer é dizer: “Não aguento agora, mas quero voltar.” Só que quase nunca dizemos isso. Simplesmente… calamos e vamos. E quem fica, nem sempre entende. Aprendi a avisar antes de ir Hoje tento avisar. Quando sinto que o mundo me pesa mais do que devia. Quando noto que começo a silenciar-me… tento falar. Digo: “Preciso de tempo.” “Estou a tentar encontrar-me.” “Não estou bem, mas quero ficar.” Não é fácil. Mas é honesto. E a honestidade — mesmo frágil — aproxima. Conclusão: Se desapareceste… não estás sozinho Se estás a ler isto e reconheces esse silêncio… Esse vazio que não consegues explicar… Não te julgues. Não te apresses. Às vezes, desaparecer é o caminho que nos leva de volta. Desde que, um dia, tenhas vontade de regressar. E quando regressares… Mesmo com medo, mesmo aos pedaços… Acredita: o mundo ainda te espera.
INDEX CULINARIUM XXI, Divulgação Global