O Mistério da Galinha Existencialista Era uma vez uma galinha chamada Gertrudes que vivia numa quinta pacata em Portugal. Mas Gertrudes não era uma galinha qualquer. Enquanto as outras cacarejavam alegremente e perseguiam minhocas, Gertrudes passava os dias a olhar para o horizonte, perdida em pensamentos profundos. — “Se eu ponho ovos, mas nunca os vejo tornar-se frangos… qual é o propósito da minha existência?” — perguntava ela ao espantalho, que, como sempre, não respondia. (Era um espantalho, afinal.) Um dia, Gertrudes decidiu que estava na hora de procurar respostas. Escapou da quinta com um plano: encontrar um filósofo. Infelizmente, o único “filósofo” que encontrou foi um gato chamado Aristóteles, que vivia atrás do café da aldeia e passava os dias a dormir em cima de jornais velhos. — “A vida é como uma lata de atum,” disse o gato, sem abrir os olhos. “Às vezes está fechada. Às vezes está vazia. E às vezes... é só uma lata.” Gertrudes ficou impressionada. Aquilo fazia tanto sentido como um ovo quadrado. Decidiu então escrever um livro: O Ovo ou Eu: Reflexões de uma Galinha em Crise. Tornou-se viral entre os animais da quinta. O porco começou a meditar. A vaca inscreveu-se num curso de yoga. Até o espantalho começou a usar chapéu de palha com estilo boémio. No fim, Gertrudes percebeu que talvez o sentido da vida não estivesse nos ovos, nem nas respostas, mas nas perguntas. E no facto de que, mesmo sendo uma galinha, podia inspirar uma revolução filosófica rural. Gertrudes e a Revolução das Plumas Depois do sucesso estrondoso do seu livro O Ovo ou Eu, Gertrudes tornou-se uma celebridade local. Foi convidada para dar palestras na cooperativa agrícola, apareceu numa reportagem da revista Galinha Moderna, e até recebeu uma proposta para adaptar a sua obra ao teatro — com patos a fazerem de galinhas, claro, por questões de orçamento. Mas Gertrudes não se deixou levar pela fama. Continuava a acordar cedo, a contemplar o nascer do sol e a perguntar-se: “Será que o milho é apenas uma metáfora para a felicidade?” Um dia, ao visitar a quinta vizinha, conheceu um galo chamado Nietzsche — um tipo intenso, com penas espetadas e um olhar que dizia “já vi demasiado”. Juntos começaram a organizar encontros filosóficos semanais no galinheiro, onde se discutia tudo: o livre-arbítrio das vacas, a ética da ordenha, e se os patos realmente têm alma. A quinta nunca mais foi a mesma.
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O burro começou a escrever poesia slam.
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As ovelhas formaram um coletivo artístico chamado “Lã & Liberdade”.
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E o cão pastor, que antes só ladrava, agora citava Kant.
Mas nem tudo eram penas e rosas. O fazendeiro começou a desconfiar. “Estas galinhas estão a pensar demais,” murmurava ele, enquanto via Gertrudes a desenhar diagramas existenciais com milho no chão. Foi então que Gertrudes teve uma ideia brilhante: fundar a primeira Universidade Animal Autónoma — a UAA. Com cursos como “Introdução à Filosofia Bovina” e “Estudos Avançados em Poeira de Celeiro”, a universidade atraiu estudantes de todas as espécies. No discurso inaugural, Gertrudes disse: “Não somos apenas animais de quinta. Somos seres pensantes, sonhadores, e acima de tudo... plumosos com propósito.” E assim, Gertrudes não só encontrou o sentido da sua vida, como ajudou todos os outros a encontrar o deles.
INDEX CULINARIUM XXI, Divulgação Global