A Casa que Levo Comigo Nem toda a casa tem paredes Já tive casas com janelas abertas para o mundo. Outras com portas trancadas por dentro. Tive casas de cimento e de madeira, casas temporárias, alugadas, sonhadas. Mas a única casa que verdadeiramente ficou… foi aquela que aprendi a levar comigo. Não tem morada. Não tem número de porta. Não está no GPS. Mas está em mim. E por mais voltas que o mundo dê, sei que posso voltar a ela — sempre que preciso. Casa: lugar ou sensação? Durante muito tempo, achei que "casa" era um lugar físico. Um tecto. Um sofá onde se pousa o cansaço. Um conjunto de paredes que nos protegem da chuva, do frio, da vida lá fora. Mas fui percebendo que a casa verdadeira começa por dentro. É o que sentimos quando estamos em paz. Quando deixamos de fugir de nós mesmos. É o cheiro da memória. O conforto de um silêncio sem cobranças. É aquele instante em que o corpo relaxa e a alma diz: "Aqui posso ficar." As casas onde nunca morei Curiosamente, lembro-me mais das casas onde nunca cheguei a viver. Aquela varanda de verão numa cidade que apenas visitei. A mesa de madeira de uma cozinha onde me senti escutado pela primeira vez. Um abraço num corredor que parecia interminável. Momentos que se tornaram morada. E percebi que a casa não é onde estamos, mas como nos sentimos nesse lugar. Há casas que nunca terão o nosso nome no contrato… mas ficam gravadas na pele. O peso da bagagem Levar a casa connosco tem o seu preço. Nem tudo cabe. Nem tudo deve caber. Para que uma casa interior exista, é preciso escolher. Decidir o que se guarda… e o que se deixa para trás. Há móveis emocionais que só ocupam espaço. Culpas antigas. Feridas que deixámos por tratar. Pessoas que já não fazem sentido, mas continuamos a carregar como retratos desbotados. E então, chega o momento de fazer essa pergunta difícil: "Isto ainda me pertence… ou só me prende?" As paredes que construí sem perceber Nem sempre a casa que levo comigo é acolhedora. Às vezes construí muros quando só queria janelas. Fechei-me. Protegi-me. E no processo, deixei de entrar em mim. Tornei-me prisioneiro do conforto. E não há cárcere mais perigoso do que aquele que parece seguro. Mas até essas casas ensinam. Mostram-nos o que não queremos repetir. E um dia, com coragem, derrubamos uma parede, abrimos uma claraboia… e voltamos a respirar. Onde está a minha casa agora? Hoje, a casa que levo comigo não tem forma certa. Às vezes é um caderno, outras vezes um banco de jardim. É o som da minha própria voz quando consigo escutá-la. É uma canção que me devolve à infância. É o silêncio onde já não me assusto. É, acima de tudo, um lugar onde posso ser inteiro — mesmo quando estou aos pedaços. Conclusão: E tu, já encontraste a tua? Todos carregamos alguma coisa. Uns levam medo. Outros, esperança. Mas quem consegue levar casa dentro de si… nunca está realmente perdido. Não é preciso saber o caminho, basta saber onde te sentes inteiro. Essa será sempre a tua casa. Mesmo que nunca tenha sido construída com tijolos. Mesmo que só exista dentro de ti.
INDEX CULINARIUM XXI, Divulgação Global