O Domínio da Água: História, Poder e Controlo no Mundo Actual

A água, fonte de vida, tornou-se também, ao longo da história, fonte de poder. O seu domínio, outrora ligado à sobrevivência e ao desenvolvimento das civilizações, transformou-se num activo estratégico e económico de peso global. Com o agravamento das crises climáticas, a privatização crescente e a escassez em várias regiões do mundo, a água deixou de ser apenas um recurso natural: tornou-se um bem geopolítico e financeiro. Este artigo traça a evolução histórica do controlo da água, as suas implicações económicas e sociais e o papel das grandes empresas e marcas na sua gestão global.

A Água na História: Recurso e Domínio

Desde as primeiras civilizações — como as do Nilo, Tigre e Eufrates — que o controlo da água determinava o poder político e económico. A construção de sistemas de irrigação, aquedutos e barragens era não só uma questão de sobrevivência, mas também uma demonstração de organização e autoridade.

Na Europa medieval, os senhores feudais controlavam fontes, poços e canais. Mais tarde, durante o colonialismo, a gestão da água esteve frequentemente associada ao domínio territorial. O acesso à água determinava onde podiam existir cidades, plantações ou indústrias. A água foi, assim, central para o crescimento das grandes potências, mesmo que muitas vezes à custa da população local.

Privatização e Mercantilização

A partir do final do século XX, com o avanço das políticas neoliberais e a globalização económica, a água passou progressivamente a ser tratada como mercadoria. Em muitos países, os sistemas públicos de distribuição foram entregues a empresas privadas, sob a promessa de maior eficiência e modernização.

A Veolia e a Suez, ambas francesas, foram pioneiras neste processo, tornando-se dois dos maiores grupos mundiais no sector da água. Actuam em dezenas de países, gerindo desde redes urbanas de distribuição até à reciclagem e tratamento de águas residuais.

Nos Estados Unidos, empresas como a Nestlé Waters North America (adquirida em 2021 pela One Rock Capital Partners e Metropoulos & Co.) estiveram envolvidas em polémicas sobre a extracção de grandes volumes de água para engarrafamento, mesmo em regiões com stress hídrico.

Também a Coca-Cola, através da marca Dasani, e a PepsiCo, com Aquafina, investiram fortemente na comercialização de água engarrafada, transformando um recurso natural básico num produto industrial altamente lucrativo.

A Situação Actual: Disparidades e Conflitos

Hoje, mais de 2 mil milhões de pessoas vivem em países com escassez severa de água. Em África, no Médio Oriente e em partes da Ásia, o acesso à água potável é precário, agravado por alterações climáticas, má gestão e conflitos armados. A par disso, a indústria da água engarrafada continua a crescer a um ritmo acelerado, impulsionada por campanhas de marketing, insegurança hídrica e desconfiança na qualidade da água pública.

Enquanto isso, algumas multinacionais controlam reservas naturais, fontes subterrâneas e direitos de exploração de rios e aquíferos. Em 2020, a água passou a ser negociada em bolsa nos Estados Unidos, na Bolsa de Futuros de Chicago (CME Group), através do índice Nasdaq Veles California Water Index. Este facto gerou críticas sobre a financeirização de um bem essencial, abrindo caminho para especulação sobre um recurso que deveria ser um direito humano.

A Europa e Portugal: Entre o Público e o Privado

Na Europa, o modelo de gestão da água varia. Em França, países baixos e Alemanha, predominam os sistemas públicos ou mistos. Já no Reino Unido, a água foi completamente privatizada nos anos 80, com resultados controversos, incluindo falta de investimento, aumento de tarifas e episódios de contaminação.

Em Portugal, a água é, na sua maioria, gerida publicamente, embora existam concessões privadas a empresas como a Indaqua (do grupo Miya Water) e a AgdA – Águas Públicas do Alentejo, num modelo de parceria público-privada. A Águas de Portugal (AdP), holding pública, é responsável por grande parte do abastecimento e tratamento de água no território continental, actuando através de empresas regionais.

Contudo, continuam a existir tensões em torno da transparência dos contratos, da regulação das tarifas e do equilíbrio entre eficiência de gestão e interesse público. Em zonas urbanas, a qualidade da água é geralmente elevada, mas em algumas zonas rurais persistem desafios no acesso e manutenção das infraestruturas.

Marcas, Marketing e Consumo

Nos últimos anos, o consumo de água engarrafada disparou. Marcas como Luso, Pedras Salgadas, Vitalis ou Fastio dominam o mercado português. Apesar da qualidade reconhecida da água da rede pública, muitos consumidores continuam a preferir a água engarrafada, movidos por percepções de pureza, sabor ou conveniência.

As campanhas de marketing das grandes marcas contribuíram para reforçar esta tendência, transformando a água num produto de imagem, muitas vezes associado ao bem-estar, ao desporto ou ao estilo de vida saudável. Esta realidade levanta questões ambientais, nomeadamente quanto ao consumo de plástico e à pegada ecológica associada ao transporte de milhões de garrafas por todo o mundo.

A Questão Ética: Direito ou Produto?

A crescente privatização e comercialização da água suscitam um debate essencial: deve a água ser tratada como um bem comum ou como um produto de mercado? Em 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu o acesso à água potável e ao saneamento como um direito humano fundamental. No entanto, a prática revela desigualdades profundas.

Os movimentos sociais, como o caso emblemático de Cochabamba, na Bolívia, onde a população se insurgiu contra a privatização da água em 2000, continuam a questionar o modelo dominante. Em vários países, a pressão popular tem levado à remunicipalização dos sistemas de água, devolvendo-os ao controlo público.

Considerações Finais: O Futuro da Água

Num mundo marcado por mudanças climáticas, urbanização crescente e pressão sobre os recursos naturais, o acesso à água potável será um dos grandes desafios do século XXI. O domínio da água, mais do que uma questão técnica, é uma questão de justiça.

A história mostra-nos que quem controla a água, controla a vida. E se o futuro nos impõe escolhas difíceis, é essencial que o debate sobre a água seja público, informado e transparente. O equilíbrio entre eficiência, sustentabilidade e equidade social será determinante para garantir que este bem essencial continue acessível a todos.

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