FERNANDO PESSOA E A GASTRONOMIA: O SABOR DA SOLIDÃO E DA CULTURA À Mesa com o Poeta: Café, Vinho e Reflexão Fernando Pessoa não foi um gastrónomo, nem um autor de receitas. Mas foi, sem dúvida, um frequentador da mesa como espaço de pensamento. A sua ligação à gastronomia portuguesa é indireta, mas profundamente simbólica — feita de cafés, tertúlias, vinhos e silêncios mastigados entre versos. O Café Martinho da Arcada, na Praça do Comércio em Lisboa, foi o seu refúgio habitual. Ali, entre um bife à Martinho e um arroz de pato, Pessoa escrevia, pensava e encontrava os seus heterónimos. A mesa era o seu escritório, o seu confessionário, o seu palco de inquietações2. O Vinho e o Desassossego Pessoa apreciava o vinho — não apenas como bebida, mas como metáfora da vida. Em cartas trocadas com Ofélia, sua eterna quase-namorada, ela lamentava que ele passasse mais tempo nos bares do avô Abel Pereira da Fonseca, famoso produtor e distribuidor de vinhos, do que com ela. Este avô, figura influente na Lisboa do início do século XX, possuía mais de 100 bares na cidade. Os vinhos da família, como Quinta das Cerejeiras e Casa Abel, ainda hoje são produzidos. Pessoa, entre um copo e um poema, saboreava o mundo com melancolia e lucidez. A Gastronomia como Cultura e Identidade Em eventos como o ciclo Sabores e Paladares Ibéricos, a figura de Pessoa foi homenageada com pratos típicos e vinhos de Lisboa, mostrando que a cultura não se separa da mesa. A poesia, o vinho e a comida fundem-se num mesmo gesto de celebração e pertença. A frase atribuída a Pessoa — “Boa é a vida, mas melhor é o vinho” — resume bem essa filosofia. Comer e beber não são apenas atos fisiológicos, mas expressões da alma portuguesa, da saudade, da introspeção e da comunhão. Conclusão: Pessoa, o Poeta da Mesa Invisível Fernando Pessoa não deixou receitas, mas deixou sabores emocionais. A sua presença na gastronomia portuguesa é feita de memória, lugares e gestos. Está nos cafés antigos, nos vinhos que contam histórias, nos pratos que acompanham silêncios. Sentar-se à mesa com Pessoa é sentar-se com a própria Lisboa — com os seus fantasmas, os seus aromas e os seus versos. Porque, no fundo, comer também é pensar. E pensar, para Pessoa, era sempre um banquete interior.
PROCURA NO PORTAL DAS COMUNIDADES
ROTEIRO DO REGRESSO A PORTUGAL |
PORTUGAL ESSENTIALS |
BLOCO DE NOTAS, CRONICAS E CONTEÚDOS, PARTICIPA! |
ESCRITOR ADEMIR RIBEIRO SILVA |
DEIXA-ME RIR, crónicas de gozo com os cenários à nossa volta... |
Deixa-me rir... o dia-a-dia com graça |
A cabeça na mochila |
Aventura UBER em Portugal |
Americanos... só com Ketchup |
A galinha existencialista |
Benfica e o VAR |
Corrupção... o desporto nacional |
Espanhóis, tão perto e tão longe |
Portugal real ou surreal |
Suíça terra de sonho |
INDEX CULINARIUM XXI, Divulgação Global