ABACAXI (ou ananás): o fruto que conquistou o mundo

Entre mitos e verdades sobre a descoberta

Poucos frutos carregam tanta confusão histórica como o ananás. Durante séculos, repetiu-se que tinha sido descoberto no Brasil em 1555 por Jean de Léry. Mas a realidade é outra: os companheiros de Cristóvão Colombo encontraram-no em 1493, na ilha de Guadalupe, muito antes da versão registada pelo viajante francês.

Mais curioso ainda é lê-lo em certas enciclopédias antigas descrito como uma “subespécie de morangos”. Nada mais errado. O ananás pertence à família das bromélias, com mais de 1.600 espécies, e nada tem a ver com os morangos, que pertencem à família das rosáceas.

O símbolo de hospitalidade no Novo Mundo

Quando os espanhóis chegaram às Caraíbas e depois à América Central e do Sul, o ananás já era cultivado pelos povos indígenas há muito tempo. Este fruto era muito mais do que alimento: era um símbolo de boas-vindas. Colocado junto às portas das cabanas, representava hospitalidade. As sebes de ananás, com folhas espinhosas, eram também uma forma engenhosa de proteger as aldeias contra visitantes indesejados.

Arqueólogos encontraram imagens de ananás em cerâmica peruana que remontam ao primeiro milénio d.C.. Para os botânicos, este cultivo é ainda mais antigo, pois o ananás cultivado já não produz sementes, sinal claro de uma longa história de propagação humana.

Amor à primeira vista dos europeus

O encontro entre europeus e ananás foi descrito com entusiasmo quase poético. O missionário jesuíta José de Acosta, em 1578, falava do seu cheiro agradável e de um sabor “delicioso, suculento e doce, e ao mesmo tempo afiado”. Já Jean de Léry o descreveu como um fruto digno de banquetes dos deuses, que só mereceria ser colhido pela mão de Vénus.

Ao contrário de outros alimentos que demoraram séculos a ser aceites, o ananás foi imediatamente recebido com entusiasmo. Em menos de cinquenta anos, já era cultivado em várias latitudes tropicais.

A viagem do ananás pelo mundo

O ananás espalhou-se rapidamente. Chegou à China por volta de 1594, talvez pelo Pacífico, talvez por África e Filipinas. Em 1636, já era descrito na Flora sinensis por missionários jesuítas. Em África, terá chegado por volta de meados do século XVI, mas nas ilhas do Pacífico só foi introduzido em 1777, pelo Capitão Cook.

Nos Estados Unidos, a proximidade com a América tropical não bastou para popularizar o fruto. O problema era simples: o ananás só revela todo o sabor quando amadurece no caule, e isso tornava-o difícil de transportar. Só no século XIX, com rotas de transporte rápido, os norte-americanos puderam saborear com regularidade este fruto tropical.

O Havai e a indústria do ananás

Hoje, a palavra “ananás” evoca quase automaticamente a imagem do Havai. É surpreendente saber que o fruto só foi cultivado ali a partir de 1790. No entanto, foi no Havai que o ananás se tornou um símbolo global.

As plantações havaianas representaram um verdadeiro triunfo da agricultura intensiva. As plantas foram sujeitas a fertilizantes, pesticidas e tratamentos hormonais para garantir que os frutos amadurecessem todos ao mesmo tempo e com o mesmo tamanho. O que para a natureza seria diversidade, para a indústria tornou-se uniformidade, sinónimo de perfeição comercial.

O ananás hoje: entre o encanto e a crítica

Em 2025, o ananás continua a ser um dos frutos tropicais mais consumidos no mundo. É celebrado pelo seu sabor doce e ácido, pela sua versatilidade em pratos doces e salgados, e pelo seu valor nutricional: rico em vitamina C, manganês e bromelaína, uma enzima associada a benefícios digestivos.

Mas também é alvo de críticas. O cultivo intensivo, como no Havai ou em outras regiões tropicais, levanta questões ambientais e sociais: uso excessivo de químicos, exploração laboral e impactos na biodiversidade.

Assim como no caso do abacate, o ananás desafia-nos a olhar para além da sua polpa dourada e doce. Obriga-nos a pensar no caminho invisível que percorre até chegar à nossa mesa.

Reflexão final

O ananás é mais do que um fruto tropical refrescante. É um símbolo de hospitalidade, um emblema de exotismo que encantou exploradores, missionários e reis. É também a prova de como a natureza e a cultura humana se entrelaçam ao longo dos séculos.

Ao cortar um ananás hoje, podemos sentir a mesma surpresa que os companheiros de Colombo tiveram em 1493. Mas podemos também escolher fazê-lo com consciência — lembrando-nos que, por trás do sabor que nos envolve, existe uma história de descoberta, exploração e transformação.

O ananás continua a ser um convite: saborear com prazer, mas também refletir com profundidade.

Grito de Raiva

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