Molho Inglês: o elixir acidental que conquistou o mundo …sobre uma receita esquecida numa cave, uma fermentação milagrosa e o sabor que atravessou impérios até chegar às nossas cozinhas portuguesas.
Um molho que nasceu do acaso Século XIX, Inglaterra imperial. Lord Sandys regressa da Índia com saudades de um molho picante e agridoce de Bengala. Sem alquimia apurada de temperos à mão, a solução foi procurar ajuda.
Lea & Perrins: farmacêuticos, não chefs Em Worcester, John Lea e William Perrins aceitam recriar o tal molho. Misturam anchovas, vinagre, melaço, tamarindo, pimentos, alho, cebola e especiarias. Resultado inicial: intragável. O barril vai para a cave e fica esquecido. Dois anos depois, ao abrir… milagre de fermentação e envelhecimento: nasce um molho complexo, equilibrado, aromático — o primeiro Worcestershire sauce.
Do erro à glória: o nascimento de um ícone Lea & Perrins compram a receita, engarrafam e exportam por navios para Europa, América e Ásia. Quase dois séculos depois, o molho continua associado à cidade de Worcester, com fermentação e estágio em carvalho de longa duração. A fórmula exata é secreta, mas há pilares conhecidos:
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Melaço
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Vinagre (malte e vinho)
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Sal marinho
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Anchovas
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Tamarindo
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Cebola, alho, chalotas
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Pimentos
Perfil sensorial único: doce + salgado + ácido + picante + umami — um orquestrador invisível do prato.
O molho inglês em Portugal: de importado a essencial Chegou pelo comércio e pela hotelaria; ficou pela utilidade. Hoje é ingrediente de sotaque estrangeiro com cidadania portuguesa. Usos correntes por cá:
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Carne grelhada/assada: 2–3 gotas antes de servir.
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Bifes “à inglesa/à portuguesa”: reforça o molho da frigideira.
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Francesinha: no molho (tomate, cerveja, piri-piri… e um fio de inglês).
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Ovos mexidos, strogonoff, hambúrgueres, ensopados: mililitros que mudam tudo.
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Bloody Marys e sumo de tomate: travo britânico no copo.
A ciência do sabor: porque é viciante A fermentação lenta de anchovas e tamarindo gera glutamatos naturais (umami). O vinagre corta gordura, o melaço equilibra acidez, as especiarias acendem o olfato. A graça está em realçar sem dominar: um prato morno de sabor ganha vida com uma gota.
O molho inglês no mundo
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EUA: molhos de churrasco e Bloody Mary.
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Japão (Ustāsōsu): tonkatsu, okonomiyaki e fritos.
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Brasil: churrascos e molhos de carne.
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França/Itália: toque discreto em fundos e guisados.
Culturas diferentes, alma comum: fermento, mar e especiarias.
Como usar (sem abusar) Concentrado, pede mão leve. Ideias práticas:
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Estufado de carne: 1 c. chá no refogado — profundidade sem pesar.
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Molho de francesinha: o travo agridoce-picante que distingue.
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Marinadas: vinho branco + alho + azeite + pimenta + algumas gotas.
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Feijão com chouriço: ½ c. chá para levantar o conjunto.
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Bacalhau à Brás/ com natas: micro-toque que amplifica o salgado.
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Vegetais grelhados: fio final, ainda quentes.
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Cocktails: Bloody Mary ou tomate com limão + piri-piri.
Curiosidades e bastidores
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Anchovas do Atlântico fermentam meses em carvalho.
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Décadas a fio, serviu também de remédio digestivo — nasceu numa farmácia.
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Rótulos chegaram a ser colados à mão; tampas de porcelana.
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Worcester ostenta o molho como orgulho local.
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A pronúncia correta — “Wústa-shə” — continua a ser teste linguístico.
Entre o Império e o Alentejo: o molho que uniu mundos De acidente colonial a ponte cultural. Vive bem com azeite e alho, com pão e vinho tinto, em sopas e petiscos. Na cozinha portuguesa, deixou de ser exotismo: é ferramenta com história e propósito.
Reflexão final: o sabor do improvável Um erro esquecido numa cave tornou-se essencial em pratos portugueses, cocktails cosmopolitas e grelhados de verão. Prova de que a cozinha vive de acidentes felizes, curiosidade e tempo. O sabor é língua universal — e o molho inglês um dos seus melhores tradutores. No fim, uma gota sabe sempre a mais — e ainda bem. by myfoodstreet 2023

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