Agrião: o tempero da frescura e a erva que atravessa séculos Uma planta antiga com muitos nomes O agrião é daquelas plantas que atravessam a história com várias faces e significados. Já era conhecido na Antiguidade, mencionado por gregos e romanos, embora não seja claro de que espécie falavam. Os antigos aplicavam diferentes nomes de forma arbitrária, o que torna difícil distinguir se se referiam ao agrião-de-água (Nasturtium officinale) ou ao agrião-de-jardim (Lepidium sativum). O que é certo é que, desde cedo, o homem reconheceu nesta erva um sabor único — apimentado, refrescante, quase picante — e atribuiu-lhe virtudes medicinais e energéticas.
Entre a água e a terra: dois mundos do agrião O universo do agrião divide-se em dois grandes grupos:
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Agrião-de-jardim (Lepidium sativum): cresce em solos secos, tem folhas pequenas, verdes e tenras, com um sabor intenso e apimentado.
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Agrião-de-água (Nasturtium officinale): prefere ribeiros e cursos de água limpa, onde forma tapetes verdes e frescos; é o mais consumido em Portugal.
Curiosamente, ambos partilham algo com a mostarda, pertencendo à família das crucíferas. O seu sabor vivo e apimentado é parente direto dos compostos de enxofre que também encontramos no rabanete ou na rúcula.
Agrião e Antiguidade: alimento, remédio e símbolo Os Persas antigos, segundo Platão e Xenofonte, alimentavam-se de pão e agrião — acreditando que esta dieta simples dava força e resistência aos soldados. O Mestre Elsholtz, no século XVII, lembrava que tal regime criava corpos saudáveis, secos e vigorosos. Os egípcios e romanos também conheciam o agrião. Nos jardins monásticos da Idade Média, era cultivado tanto pela sua utilidade culinária como pelos benefícios para a saúde. O sumo de agrião era usado no verjuice (um sumo ácido usado para temperar e conservar), até ser substituído pelo limão, trazido do Médio Oriente pelas Cruzadas.
Um sabor que desperta o corpo O agrião sempre foi visto como uma erva que “acorda” o paladar e os sentidos.
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Na França burguesa, a sopa de agrião tornou-se uma tradição clássica, comparável ao papel da sopa de alho-francês e batata (potage parmentier).
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Em Inglaterra, o agrião fresco acompanha carnes assadas, costeletas de borrego e pratos fortes, oferecendo um contraponto refrescante.
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Em Portugal, ganhou espaço em saladas, sumos verdes e sopas caseiras, muitas vezes associado a alimentação saudável.
Do campo ao prato: o agrião em Portugal No nosso país, o agrião-de-água é o mais popular. Cresce espontaneamente em ribeiros limpos, embora hoje seja cultivado de forma mais controlada por razões de segurança alimentar. É presença obrigatória em:
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Sopa de agrião – receita tradicional portuguesa, com batata, cebola, cenoura e um fio de azeite, onde o agrião entra no final, mantendo a sua frescura.
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Saladas verdes – misturado com alface ou rúcula, traz um toque picante.
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Sumos detox – muitas vezes usado em combinações com maçã, pepino ou gengibre.
Curiosamente, em várias aldeias portuguesas, sobretudo do Norte e Centro, ainda se encontra o costume de colher agrião fresco em ribeiros, um gesto que mistura tradição e nostalgia, embora hoje se recomende cautela devido à poluição das águas.
Agrião e medicina popular Desde sempre, o agrião foi mais do que alimento: foi remédio.
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Considerava-se um purificador do sangue.
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Era usado contra tosses, constipações e até como afrodisíaco discreto.
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Rico em vitamina C, ferro e antioxidantes, foi aliado contra o escorbuto, sobretudo entre marinheiros.
A ciência moderna confirma: o agrião é um dos vegetais mais densos em nutrientes. Fornece quase tudo em pequenas folhas: vitaminas A, C e K, cálcio, magnésio, fibras e compostos antioxidantes que protegem as células.
Curiosidades do agrião
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O agrião-de-inverno (Barbarea vulgaris) é uma variedade resistente ao frio, capaz de ser colhida mesmo em fevereiro, quando nada mais cresce no campo.
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No Reino Unido, foi em tempos tão comum que chegou a ser vendido em molhos pelas ruas, como hoje se vende salsa.
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Alexandre Dumas, grande apaixonado por gastronomia, cultivava agrião em algodão húmido dentro de casa. Hoje, as versões modernas vendidas em tabuleiros com raízes seguem a mesma lógica.
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Na China e Índia, o agrião tem grande importância culinária e medicinal, usado em sopas, chás e até como tónico.
Reflexão final: a simplicidade que cura e alimenta O agrião é um exemplo perfeito daquilo que a natureza nos oferece de forma humilde: uma erva leve, quase frágil, mas com uma força interior que alimenta e fortalece. Das margens de um ribeiro medieval às mesas modernas preocupadas com saúde, atravessou séculos sem perder o seu lugar. É, ao mesmo tempo, condimento, alimento e remédio. Ao provar um molho de agrião fresco, sente-se um sabor vivo, cortante, que desperta o corpo — como se a natureza nos lembrasse, numa pequena folha, que a saúde e a energia muitas vezes estão nas coisas mais simples.
by myfoodstreet 2023

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