
Milho Geneticamente Alterado: Raízes, Futuro e Identidade Raízes que germinam controvérsia O milho — Zea mays — é, por si só, um testemunho de transformação: há milénios domesticado nas Américas, adaptado pelas mãos humanas a culturas, climas e paladares diversos. Mas a partir da segunda metade do século XX, uma nova forma de domesticação surgiu — a manipulação directa dos genes, para criar aquilo que hoje chamamos de milho geneticamente modificado (OGM ou transgénico). A promessa: mais produtividade, resistência a pragas, tolerância a herbicidas, adaptações climáticas. A questão emocional, no entanto, toca no terreno da identidade — do agricultor que sente orgulho na semente que escolheu, do consumidor que se interroga sobre o que põe no prato. O panorama em 2025: tipos e aprovações na Europa Variedades autorizadas e usos permitidos Em Abril de 2025, a União Europeia autorizou a colocação no mercado de três variedades de milho geneticamente modificado — MON 94804, MON 95275 e DP910521. Estas autorizações destinam-se ao uso em alimentos, ingredientes alimentares e alimentação animal, bem como para qualquer outro uso, excepto para cultivo dentro da UE. Ou seja: podem ser importadas, usadas como alimento ou ração, mas não plantadas legalmente nos campos europeus. A variedade persistente no cultivo europeu: MON 810 Há, porém, uma excepção notável. A variedade MON 810, da Monsanto (actualmente dentro do grupo Bayer), é a única variedade GM de milho que ainda está cultivada comercialmente na União Europeia. É resistente a uma praga (o talho do milho europeu) através da expressão da proteína Cry1Ab do Bacillus thuringiensis. Empresas protagonistas São várias as empresas que lideram a investigação, registo e comercialização de milho geneticamente modificado mundialmente, e que também têm papel nos processos de autorização/importação/distribuição para a Europa:
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Bayer CropScience / Monsanto: grande parte das variedades como MON 810, MON 94804, etc., são de origem Monsanto ou foram desenvolvidas antes da sua aquisição pela Bayer.
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Corteva Agriscience (antiga DuPont Pioneer / Dow): também forte no mercado global de milho GM, com tecnologias de tolerância a herbicidas e resistência a pragas.
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BASF Plant Science: conduz investigação sobre milho GM, entre outras culturas. Porém, o seu papel em termos de variedades comercializadas específicas na UE é condicionado pela regulação rígida.
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Syngenta: embora muito activa globalmente, as suas variedades GM enfrentam os mesmos entraves regulatórios na Europa.
Exemplos de genes modificados e características
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Resistência a insectos: como em MON 810, que expressa a proteína Bt (Cry1Ab) para combater a broca do milho.
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Proteção múltipla (stacked traits): algumas variedades novas combinam genes que conferem mais do que uma vantagem — por exemplo, tolerância a herbicidas e resistência a insetos ou doenças, ou múltiplos genes Cry para pragas diferentes.
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Importação para ração / alimentação: as variedades aprovadas recentemente (MON 94804, MON 95275, DP910521) não se destinam a cultivo, mas sim a garantir cadeias de alimentos e rações que usem ingredientes derivados de milho GM importado; de novo, com etiquetagem obrigatória e requisitos de rastreabilidade.
Tensões éticas, culturais e emocionais O agricultor entre o tradicional e a pressão do mercado Para quem trabalha a terra, a semente não é só produto: é legado, cultura, escolha de família. Optar por milho GM pode implicar depender de empresas que detêm patentes — comprar sementes todos os anos, aceitar condições de licenciamento, pagar por tecnologias que prometem menos perdas, mas aumentam custos iniciais. Para muitos, renunciar à semente guardada ou híbrida de longa tradição pode sentir-se como uma perda de autonomia. O consumidor e o sabor da incerteza Quando colocamos no prato algo que contém milho GM importado, haverá sabor, textura, valor nutritivo equivalentes. Cientificamente, muitas das variedades autorizadas são avaliadas como seguras como as convencionais. No entanto, existe uma carga simbólica forte: o “natural”, o “convencional”, o que é alterado em laboratório — tudo isso pesa nos valores pessoais de cada um. Regulamentação, rótulo e confiança Na Europa, a legislação obriga que todo produto alimentar que contenha milho GM (ou qualquer ingrediente derivado) esteja devidamente rotulado e rastreável. A transparência é fundamental para gerar confiança, mas também alimenta controvérsia: há quem critique a burocracia, quem ache que os riscos ambientais (por exemplo, cruzamento com variedades não-GM, efeitos sobre a biodiversidade) não estão suficientemente percebidos.
Esperanças e medos: o futuro no campo Enquanto o clima muda, as estações se tornam imprevisíveis, secas ou chuvas extremas afetam culturas, a tecnologia genética surge como possível solução — milho que resiste a seca, milho que tem ciclos mais curtos, milho que exige menos pesticidas ou fertilizantes. Há esperança de que estas inovações venham ajudar a manter a segurança alimentar e a sustentabilidade. Mas os medos persistem: concentração de mercado (poucos gigantes detêm muitas tecnologias), perda de biodiversidade, risco de dependência tecnológica, desafios regulatórios, impactos ambientais imprevistos, receios dos consumidores.
Conclusão: entre campo, ciência e coração O milho geneticamente alterado é mais do que uma ciência aplicada — é um espelho que reflecte escolhas humanas: sobre o que valorizamos, o que aceitamos como “progresso”, quem decide. Em 2025, encontramos variedades autorizadas para importação, algumas cultivadas em países específicos, empresas com poder de investigação e mercado muito forte, e regulações cada vez mais exigentes. Mas também encontramos pessoas — agricultores, consumidores — que sentem nostalgia por sementes tradicionais, valorizam a comida local, questionam o inalterado ou aceitável. No fim, talvez a pergunta mais profunda que nos resta não seja “podemos usar milho GM?”, mas “como queremos lembrar o sabor do milho?”. Se será o sabor da tradição, da inovação, ou de uma combinação complexa de ambição e convicção. by myfoodstreet.blog 2025


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