
Fabáceas e exceções: quando a natureza cede Algumas Fabáceas, como a soja, mostraram-se mais colaborativas. Graças à sua biologia, tornaram-se acessíveis à manipulação genética por via do plasmídeo Ti, permitindo à engenharia genética ensaiar os seus primeiros passos no reino dos alimentos essenciais. Mas o trigo, o milho e o arroz — os verdadeiros pilares do pão que sustenta a humanidade — mantinham-se teimosamente impenetráveis.
A muralha invisível dos cereais As Agrobacterium tumefaciens, com todo o seu engenho bacteriano, não conseguiam ultrapassar a sólida barreira das paredes celulares dos cereais com o seu plasmídeo Ti. E não havia, na natureza, outro "veículo" comparável capaz de transportar genes estranhos até ao núcleo destas células altamente protegidas. Tentou-se de tudo: injeções diretas, microperfurações, lasers de alta precisão... mas nada parecia surtir efeito. As "plantas teimosas" resistiam, como que lembrando os cientistas de que a vida tem os seus próprios ritmos e segredos.
Protoplastos: reprogramar a planta a partir do essencial A estratégia mais promissora para contornar o problema passou por remover a parede celular das células vegetais. Estas células "desnudadas", conhecidas como protoplastos, poderiam então ser alvo de agentes de transporte químicos, que introduziriam segmentos de ADN capazes de reprogramar o desenvolvimento da planta. Com muito esforço e uma dose considerável de sorte, no milho e no arroz, algumas dessas células conseguiam ser alimentadas de volta a uma planta completa. Mas a técnica estava longe de ser fiável. Faltavam protocolos padronizados e eficientes, e cada tentativa era quase um ritual artesanal de tentativa e erro. "Criar uma cultura celular adequada", admitia Ingo Potrykus, geneticista de plantas em Zurique, "é ainda uma arte que também depende de parâmetros para além de qualquer controlo experimental".
Entra em cena a arma genética: o gene gun Foi então que uma nova ideia começou a ganhar forma, num cruzamento improvável entre engenharia molecular e balística: a arma de partículas de ADN, também conhecida como gene gun. Desenvolvida em 1987, esta engenhoca conseguia acelerar minúsculas partículas de tungsténio ou ouro revestidas com ADN até velocidades brutais, permitindo que perfurassem as espessas paredes celulares dos cereais — literalmente disparando genes para dentro das células. As “feridas de bala” deixadas nos tecidos cicatrizavam rapidamente. E se o gene estranho estivesse equipado com os sinais de controlo corretos — os “marcadores de leitura” que permitissem à planta reconhecer e ativar esse novo código — então, com sorte, o ADN era integrado no núcleo celular.
A esperança, o caos e o ruído dos primeiros disparos Mas, tal como com as outras técnicas, o sucesso da arma de genes não terminava no “acerto”. Era apenas o início de um longo e incerto processo de regeneração, tentando fazer nascer uma nova planta a partir da célula transformada. Ainda assim, o impacto dos primeiros disparos foi sísmico. A equipa da BioTechnica foi uma das primeiras a disparar contra células de milho, anteriormente inacessíveis. Logo depois, as maiores multinacionais do setor agroalimentar e biotecnológico seguiram o exemplo, numa verdadeira corrida ao ouro genético.
Quando a ciência dispara, o mundo escuta Esta nova etapa trouxe consigo esperança e medo em igual medida. Por um lado, as culturas antes invioláveis começavam a ceder. Por outro, os limites éticos e ecológicos tornavam-se cada vez mais difusos. Era possível agora cruzar fronteiras genéticas que a natureza levara milhões de anos a desenhar — com uma arma de laboratório, e com intenções que nem sempre estavam alinhadas com o bem comum. myfoodstreet.blog 2025


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