
Arquelau: Luxo à Mesa, Injustiça no Governo
A história de Arquelau, filho de Herodes, o Grande, é menos conhecida, mas não menos reveladora. Não herdou do pai a mesma crueldade extrema nem o génio construtor, mas herdou algo igualmente corrosivo: a incapacidade de governar com justiça. Rapidamente se tornou um dos membros mais odiados da dinastia herodiana.
Um poder concedido, não conquistado
Após a morte de Herodes, o Grande, a sucessão foi marcada por conflitos familiares e revoltas populares. A instabilidade levou Roma a intervir diretamente. Como solução temporária, os romanos concederam a Arquelau o controlo de Idumeia, Judeia e Samaria.
Não recebeu o título de rei, mas governou como se o fosse. E governou mal.
Crueldade e injustiça
Desde cedo, Arquelau revelou-se cruel, arbitrário e profundamente injusto. Em vez de pacificar o território que lhe fora confiado, agravou as tensões com decisões brutais e impostos opressivos.
Exigiu tributos elevadíssimos ao povo para financiar a reconstrução do magnífico palácio de Jericó, símbolo máximo de um poder distante e insensível à miséria popular. Enquanto o povo lutava para sobreviver, o governante investia em mármores, jardins e banquetes.
A mesa de Arquelau: excesso e ostentação
À mesa de Arquelau serviam-se, sem dúvida, as iguarias mais raras do seu tempo. A vasta rede de rotas comerciais romanas permitia importar alimentos de todas as partes do império — até cerejas da distante Ásia Menor, um luxo impensável para a maioria da população.
O peixe e o marisco chegavam facilmente graças à grande frota pesqueira estacionada em Cesareia, o maior porto da Samaria. Ostras, peixes frescos e conservas marinhas eram presença habitual na mesa do governante.
A comida tornava-se, mais uma vez, instrumento de poder e distanciamento social.
Dez anos de fracasso
Durante cerca de uma década, Arquelau tentou impor a sua autoridade sobre a Judeia. Falhou repetidamente. As revoltas continuaram, as queixas multiplicaram-se e a instabilidade tornou-se crónica.
Em 6 d.C., deslocou-se novamente a Roma, tentando convencer o imperador Augusto a apoiar os seus planos e a legitimar definitivamente o seu domínio. Mas a paciência imperial tinha-se esgotado.
A queda e o exílio
Augusto não tolerou mais os abusos. Arquelau foi deposto e enviado para o exílio em Vienne, no sul da Gália. A Judeia deixou de ser um reino cliente e passou a ser província romana, governada diretamente por representantes do império.
Aquele que se habituara ao luxo, à abundância e às mesas fartas viu-se afastado de tudo o que simbolizava o seu poder.
A memória que não se celebra
O menu inspirado neste período procura apenas evocar os sabores e os produtos da época, e não perpetuar a memória de um governante tirânico. A comida, aqui, serve para compreender um contexto histórico, não para glorificar a injustiça.
Seria talvez anticristão, mas profundamente humano, imaginar Arquelau no exílio, ansiando em vão pelos pratos requintados que outrora encheram a sua mesa.
Uma última lição à mesa
A história de Arquelau recorda que o luxo não legitima o poder, e que nenhuma mesa, por mais rica que seja, consegue esconder a injustiça prolongada. Também hoje, numa sociedade onde o excesso convive com a carência, esta narrativa continua atual.
Porque, no fim, a memória que permanece não é a do banquete, mas a da forma como se governou. myfoodstreet.pt 2025

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