
Paulo na Grécia Entre a razão, a praça e a mesa A missão de Paulo na Grécia conduziu-o a um dos palcos mais exigentes do mundo antigo: Atenas, ainda então o grande centro intelectual do Mediterrâneo. Era a cidade da filosofia, do debate público e da pergunta incessante. Porém, a mensagem que Paulo trazia — simples, encarnada e exigente — não impressionou imediatamente os eruditos gregos. “Alguns filósofos epicuristas e estóicos discutiam com ele. E diziam: ‘Que quer dizer este tagarela?’” (Atos 17:18) Não se tratava de rejeição violenta, mas de distância intelectual. A fé cristã não se apresentava como mais um sistema filosófico; trazia uma Pessoa e um acontecimento. E isso desafiava categorias estabelecidas.
O Areópago e o Deus desconhecido Conduzido ao Areópago, a colina de Ares diante da Acrópole, Paulo proferiu um dos discursos mais notáveis da história cristã. Não começou por condenar, mas por observar: “Homens de Atenas, vejo que sois extremamente religiosos.” (Atos 17:22) Entre os muitos altares, encontrara um com a inscrição “Ao Deus Desconhecido”. A partir desse sinal de busca, anunciou um Deus Criador, que não habita em templos feitos por mãos humanas e não depende de sacrifícios. Era uma ponte lançada entre a razão grega e a revelação bíblica — um gesto de diálogo que continua profundamente atual numa Europa plural.
A Ágora: coração vivo da cidade Grande parte da pregação aconteceu na Ágora, a praça situada sob a Acrópole. Ali pulsava a cidade: debates políticos, comércio, encontros fortuitos. O som era constante — burros zurravam, porcos guinchavam, aves cacarejavam. Os comerciantes anunciavam em voz alta: “Compra o meu azeite!”, “Linguiça deliciosa!”, “Carvão de qualidade!” Os homens — quase sempre eles — circulavam de banca em banca, vestidos com togas brancas, azuis ou mantos coloridos. Por detrás do aparente caos, havia ordem: cada mercadoria tinha o seu lugar. Vendiam-se lanches simples — lentilhas e ervilhas cozidas — e grandes pães rectangulares, trazidos por mulheres idosas. A murta era muito procurada para fazer coroas frescas, usadas diariamente pelos atenienses. Os peixeiros ocupavam grande parte da praça. Chegavam peixes e mariscos dos mares Egeu, Mediterrâneo e Jónico. Esta abundância marítima encontra eco na realidade portuguesa, onde o mercado continua a ser lugar de encontro, pregão e frescura — do peixe do dia ao pão ainda quente.
Cozinhas gregas: criatividade e sustento Depois das compras, a vida continuava em casa. As cozinhas gregas eram criativas. Uma boa cozinheira conhecia múltiplos recheios para frango ou capão: cebola e especiarias, bulgur (trigo torrado) ou arroz. Em Corinto, era comum juntar nabos com natas e manteiga. O pão pita, recheado com legumes, peixe em conserva e queijo, era provisão ideal para as longas viagens missionárias — nutritivo, portátil, comido à beira da estrada ou à sombra de um rio. No nosso imaginário português, lembra o pão com sardinhas, queijo ou conservas, companheiro fiel de viagens e romarias.
Jogos, metáforas e o Ístmo O bolo em forma de coroa do Ístmo evoca os Jogos Ístmicos, aos quais Paulo alude: “Corram de tal maneira que alcancem o prémio.” (1 Coríntios 9:24) Paulo usava imagens do quotidiano grego para falar de perseverança e sentido. A fé entrava pela linguagem comum.
A dieta do povo e o essencial A alimentação do trabalhador comum era simples e consistente: caldo, papas de cevada, peixe fresco ou salgado. As refeições tinham dois pratos. Consumiam-se muitos legumes — ervilhas, cebola, rabanetes, espargos, alho — crus e cozidos. As carnes eram menos frequentes: aves, por vezes cabrito; bovino e porco eram raros. Entre os peixes, comiam-se robalo, atum, cavala, linguado, carpa; a enguia, envolta em folhas de nabo e frita em brasas, era iguaria especial. Marisco havia em abundância: ostras, mexilhões e caracóis — estes últimos, muitas vezes, associados aos mais pobres, tal como em certas tradições populares portuguesas. Aristófanes descreve a refeição do pobre: pão de farelo, cebola, serralha ou cogumelos, vinho e azeite. Para a maioria, pão, azeite e vinho eram a base. O pão era sempre comido com azeite, nunca com manteiga. Um trabalhador começava o dia mergulhando pão em vinho — hábito distante, mas que recorda a centralidade do pão na nossa cultura.
O banquete e o excesso Os banquetes atenienses começavam tarde. Os convidados tiravam as sandálias; os escravos lavavam-lhes os pés e colocavam grinaldas de flores. Reclinavam-se em divãs, cada um com a sua mesa. Comia-se com pão, usado como colher. Depois, as “colheres” eram atiradas ao chão e varridas. Após o prato principal, vinha a sobremesa: figos, bolos, doces e vinho. Xenofonte descreve o pós-refeição: música, dança, flauta, cítara. O prazer prolongava-se.
Uma fé no meio do ruído Em Atenas, Paulo falou no meio do ruído, entre bancas e debates, razão e prazer. Alguns ouviram, poucos aderiram, mas a semente foi lançada. A mensagem cristã não se impôs; dialogou. Também hoje, numa sociedade ruidosa e plural como a portuguesa e a europeia, a fé continua a ser chamada a este lugar: a praça, a mesa, a escuta paciente. Porque, como então, há verdades que não se impõem — propõem-se. myfoodstreet.pt 2025



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