
Ágape, a Festa do Amor Quando a mesa se torna lugar de comunhão No Novo Testamento, a palavra grega ágape designa o amor no seu sentido mais alto: amor gratuito, doação total, amor divino. Não é emoção passageira nem afeto condicionado; é escolha consciente de cuidar do outro. Esse mesmo termo deu nome a uma prática concreta da primeira comunidade cristã: a Festa do Amor, uma refeição partilhada que unia oração, alimento e comunhão.
À mesa com Jesus: a origem A origem das festas do ágape encontra-se, muito provavelmente, nas refeições partilhadas por Jesus com os discípulos e, de modo particular, na multiplicação dos pães e dos peixes junto ao Mar da Galileia (Marcos 6:35–44). Comer juntos, repartir o pouco e saciar a muitos tornou-se sinal visível de um Reino onde ninguém fica de fora. As primeiras comunidades cristãs prolongaram este gesto. Pobres, viúvas e pessoas sem apoio familiar eram convidados para estas refeições. A mesa tornava-se lugar de igualdade, onde não contava o estatuto social, mas a dignidade de cada pessoa. Com o tempo, estes encontros deram origem a um ritual simples, retratado ainda hoje nos murais das Catacumbas de Domitila e Priscila, em Roma: figuras sentadas à volta de uma mesa, pão partido, peixe e copos erguidos.
Quando o essencial se perde Com o passar dos anos, o sentido profundo do ágape foi-se diluindo. Algumas destas refeições degeneraram em encontros ruidosos, marcados pelo excesso e pela falta de respeito pelos mais frágeis. Esta distorção levou os líderes da Igreja primitiva a intervir com firmeza. O próprio Paulo, assim como outros autores do Novo Testamento, repreendeu duramente estes abusos (cf. Judas 1:12–13). Quando a refeição deixava de ser expressão de amor e passava a ser ocasião de desordem, o seu sentido espiritual perdia-se.
O regresso à simplicidade Só a partir do final do século II surgem descrições mais claras e equilibradas das festas do ágape. Um dos testemunhos mais belos encontra-se em Tertuliano (c. 160–220 d.C.), jurista romano convertido ao cristianismo. No Apologeticum, descreve estas refeições com uma sobriedade que impressiona: “Antes de nos sentarmos à mesa, revigoramo-nos com uma oração a Deus. Come-se apenas o suficiente para saciar a fome e bebe-se apenas o que corresponde a uma modesta sobriedade.” A refeição era marcada pela consciência de que Deus escutava. No final, trazia-se água para lavar as mãos, acendiam-se as luzes e todos eram convidados a louvar a Deus, com palavras espontâneas ou com textos das Escrituras. A festa terminava como começara: em oração.
O que se comia no ágape Nas refeições do ágape, os alimentos eram simples: pão, peixe, legumes e fruta. Nada de luxo, nada de excessos. Antes do pôr do sol, uma família ou um pequeno grupo reunia-se numa divisão da casa. Começava-se com um pequeno aperitivo, conforme o costume mediterrânico, e depois sentavam-se — ou reclinavam-se — à volta da mesa. O líder do grupo pronunciava uma bênção enquanto o pão era partido. Este gesto, profundamente simbólico, recordava que o alimento só se torna verdadeiro sustento quando é partilhado. Também na tradição portuguesa, onde o pão ocupa um lugar central na mesa e na linguagem — ganhar o pão, partilhar o pão — esta simbologia continua viva e compreensível.
Uma oração que atravessou os séculos A oração que frequentemente encerrava a refeição do ágape chegou até aos nossos dias através de um antigo livro de orações cristão. As suas palavras condensam o espírito desta festa: **“Tu, Senhor todo-poderoso, criaste todas as coisas por amor ao Teu nome e deste às pessoas alimento e bebida para seu refresco, para que Te dessem graças. Mas deste-nos também alimento e bebida espiritual e a vida eterna, por meio do Teu servo. Acima de tudo, agradecemos-Te porque Teu é o poder e a glória para sempre. Que a misericórdia prevaleça e que este mundo passe. Amém.”** É uma oração que une corpo e espírito, presente e eternidade, mesa terrena e esperança futura.
O ágape hoje: um desafio atual Num mundo marcado pela pressa, pelo consumo e pela solidão, a Festa do Ágape continua a ser um desafio atual. Não como ritual antigo a ser recriado, mas como atitude interior: comer com sobriedade, partilhar com justiça, acolher sem distinção. Na realidade portuguesa, onde a mesa ainda é espaço de encontro, conversa e cuidado — da sopa partilhada ao almoço de família — o espírito do ágape encontra terreno fértil. Não é a quantidade que santifica a refeição, mas a intenção. Porque, no fim, o amor que se senta à mesa transforma-se em força que sustém o mundo. myfoodstreet.pt 2025



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