
Jesus Cristo: A Mesa do Reino Quando comer se torna revelação Em torno de Jesus, quase tudo acontece à mesa ou a caminho dela. Come com pescadores e publicanos, aceita convites de fariseus, multiplica pão para multidões cansadas e termina a sua vida pública numa refeição partilhada. No Evangelho, a mesa não é cenário secundário: é lugar de encontro, de escândalo e de salvação. À mesa, as hierarquias caem; à mesa, as perguntas surgem; à mesa, Deus aproxima-se.
Uma mesa sem portas fechadas Jesus não propõe uma dieta; propõe uma atitude. Não estabelece listas de alimentos permitidos, mas derruba muros invisíveis. Sentar-se com pecadores não é descuido moral, é opção espiritual. Comer com quem era excluído — cobradores de impostos, mulheres mal vistas, doentes — é declarar que ninguém fica fora do Reino. Esta lógica ecoa de forma particular na realidade portuguesa. Ainda se diz, com naturalidade, “há sempre mais um lugar à mesa”. Não é apenas hospitalidade; é uma visão do mundo. A mesa alargada, o prato repartido, o copo que se enche outra vez — tudo isso traduz uma ética antiga que Jesus radicaliza.
O pão partido: corpo que se oferece O gesto do pão partido atravessa toda a vida de Jesus. Parte o pão para ensinar, para curar, para consolar. O pão, alimento básico no Mediterrâneo antigo — como o é ainda hoje em Portugal — torna-se linguagem do dom. Não é o pão inteiro que salva, é o pão partilhado. Na multiplicação dos pães, Jesus não cria alimento do nada. Parte do pouco que existe: cinco pães e dois peixes. O milagre nasce quando alguém aceita oferecer o que tem. A abundância surge depois da partilha, não antes. É uma lição desconcertante para um mundo habituado a acumular. Também nas comunidades portuguesas, sobretudo nas mais pequenas, esta sabedoria persiste: a panela que parecia curta estica-se quando se reparte; a sopa aquece mais quando é servida a quem chega.
O vinho novo de uma aliança antiga Se o pão fala do corpo, o vinho fala da alegria e da promessa. Jesus bebe vinho nas festas, defende quem o bebe com moderação e transforma água em vinho em Caná. Não condena a alegria humana; redime-a. O vinho partilhado anuncia uma aliança nova, mas feita com gestos antigos. Na Última Ceia, Jesus escolhe pão e vinho — alimentos quotidianos, acessíveis, comuns. Não há carne rara nem especiarias exóticas. Há o essencial. O Reino começa no simples, no que está ao alcance de todos. Em Portugal, onde o pão e o vinho ainda ocupam o centro da mesa, este gesto permanece inteligível: o sagrado nasce do quotidiano.
A Última Ceia: memória que alimenta Na Última Ceia, a mesa torna-se memorial. Jesus sabe que vai morrer e, ainda assim, escolhe comer. Não foge da humanidade; entra nela até ao fim. Ao partir o pão e ao passar o cálice, oferece-se a si próprio. Comer deixa de ser apenas sustento do corpo e passa a ser comunhão. Desde então, comer “em memória” é mais do que recordar: é tornar presente. Cada mesa onde se reparte com justiça prolonga aquela noite. Cada refeição vivida com gratidão e cuidado participa do mesmo gesto.
Comer como escolha ética Depois de Jesus, comer nunca mais é neutro. Comer pode ser indiferença ou cuidado; pode ser desperdício ou gratidão; pode ser exclusão ou encontro. A mesa revela quem somos. Por isso, Jesus alerta para os banquetes que humilham os pobres e louva as refeições onde os últimos são os primeiros. Num tempo de abundância desigual, também em Portugal, a mesa cristã interpela: quem fica de fora? O alimento desperdiçado, a solidão à mesa, a pressa que impede a conversa — tudo isto questiona a fidelidade ao gesto de Jesus.
Morrer fora da cidade, viver em cada mesa Jesus morre fora da cidade, longe das mesas oficiais. Mas continua presente em cada mesa onde há partilha verdadeira. Está no pão repartido com quem precisa, no vinho servido com alegria sóbria, na conversa que escuta e acolhe. Está na mesa simples do dia a dia, onde se aprende a cuidar. Na tradição portuguesa, a mesa é lugar de histórias, de silêncio respeitado, de afetos transmitidos. Quando vivida com justiça e abertura, essa mesa torna-se sinal do Reino.
Conclusão: a mesa como caminho Jesus ensinou com palavras, mas sobretudo com gestos. E poucos gestos são tão claros como sentar-se à mesa. Comer é revelar: revela quem incluímos, o que valorizamos, como esperamos. O Reino não começa em discursos elevados; começa quando alguém parte o pão e diz, com a vida: “Senta-te. Há lugar para ti.” Depois de Jesus, comer é sempre um ato espiritual. Porque onde há partilha, aí o Reino já começou. myfoodstreeet.pt 2025



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