
Saulo, um Judeu em Tarso: Da Lei ao Caminho “Não há judeu nem grego… porque todos sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:26–28) A história de Saulo de Tarso, mais tarde conhecido como Paulo, é uma das mais intensas travessias espirituais da história humana. É o relato de alguém profundamente enraizado na tradição que, sem a negar, a transcende. Também aqui, como tantas vezes nas Escrituras, o caminho passa pela educação, pela rutura e pela mesa — lugar onde culturas se encontram e identidades se transformam.
Nascer entre dois mundos Saulo nasceu durante o reinado do Imperador Augusto, numa família judia residente em Tarso, capital da Cilícia, na Ásia Menor, hoje território da Turquia. Era uma cidade grande, próspera e cosmopolita, conhecida pelas suas escolas, pela vida cultural intensa e pela convivência de povos, línguas e crenças. O pai possuía cidadania romana, um privilégio raro, que colocava a família numa posição singular: judeus por fé, romanos por direito, orientais por geografia. Esta identidade múltipla viria a marcar profundamente a missão futura de Paulo.
Educação rigorosa e mãos que trabalham A formação de Saulo foi estritamente judaica. Aprendeu os costumes e práticas hebraicas, a Lei, os Dez Mandamentos e a história dos patriarcas. Nada foi deixado ao acaso. Ao mesmo tempo, como era habitual, aprendeu um ofício manual: fabricante de tendas. O trabalho das mãos acompanhava o estudo da Palavra — uma integração entre pensamento e ação que mais tarde Paulo nunca abandonaria. Para completar a educação religiosa, foi enviado a Jerusalém, onde estudou com o prestigiado Rabi Gamaliel, uma das maiores autoridades do judaísmo do seu tempo.
O zelo que se torna violência Saulo era fariseu convicto, ardente defensor da Lei. No seu entendimento, o movimento cristão representava uma ameaça grave à identidade judaica. Convencido de estar a servir a Deus, envolveu-se ativamente na perseguição aos seguidores de Jesus. O livro dos Atos relata a sua presença no apedrejamento de Santo Estêvão — um momento que ficará para sempre ligado à sua história (Atos 8:1, 3). O zelo, quando desligado da misericórdia, transforma-se facilmente em violência.
A queda que ilumina A caminho de Damasco, tudo se quebra. A conversão de Saulo é descrita como um acontecimento abrupto e transformador: fica cego e volta a ver, perde certezas antigas e ganha uma missão nova. Não se trata de uma mudança superficial, mas de uma reorientação total da vida. Regressa a Tarso, é batizado e começa a anunciar o Evangelho sob o nome de Paulo. Aquele que perseguia passa a ser perseguido; aquele que separava passa a unir.
Uma visão universal A mensagem de Paulo rompe fronteiras religiosas, culturais e sociais: “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre.” É uma afirmação revolucionária, que nasce precisamente da sua experiência de viver entre mundos. Paulo não rejeita a sua herança; transforma-a em ponte.
Tarso à mesa: encontro de culturas Tarso beneficiava de uma localização estratégica: acesso ao Mar Mediterrâneo e a uma passagem montanhosa pelos Montes Tauro, usada por caravanas vindas do interior da Ásia Menor. Mercadorias, ideias e sabores cruzavam-se diariamente. Na planície fértil da Cilícia, abundavam legumes e cereais. Um dos pratos mais antigos e emblemáticos da região é o borrego assado no espeto, temperado com ervas aromáticas locais. Os espetos de cobre, ainda hoje produzidos e utilizados na Turquia, testemunham uma continuidade milenar. Esta mesa de Tarso, onde Oriente e Ocidente se encontram, recorda a própria identidade de Paulo. Também Portugal, situado na outra ponta do Mediterrâneo, conhece bem este cruzamento de influências, onde o assado, as ervas e o pão contam histórias de viagens longínquas.
Uma vida feita de caminho Paulo nunca deixou de ser caminhante: entre cidades, culturas e mesas diferentes. O fabricante de tendas tornou-se tecelão de comunidades, costurando povos diversos numa mesma esperança. A sua história lembra que a verdadeira conversão não apaga o passado, mas dá-lhe novo sentido. E que, muitas vezes, é à mesa — no alimento partilhado, no trabalho comum e na hospitalidade — que as maiores transformações começam. Porque, tal como Paulo aprendeu, há caminhos que só se entendem depois de percorridos. myfoodstreet.pt 2025



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