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Antipas: O Banquete da Astúcia e o Preço da Leveza Moral

A figura de Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, surge nas narrativas bíblicas envolta em ambiguidade. Não foi um tirano irracional como o seu irmão Arquelau, mas também nunca foi um governante justo. Destacou-se sobretudo pela astúcia política, pela capacidade de se adaptar ao poder dominante e por uma vida marcada pelo excesso e pela superficialidade.

Governar agradando aos poderosos

Como tetrarca da Galileia, Antipas soube conquistar o favor de Augusto e, mais tarde, tentou garantir a benevolência de Tibério. Em sinal dessa lealdade interessada, fundou uma nova capital junto ao Mar Morto e deu-lhe o nome do imperador — um gesto simbólico que revelava bem a sua estratégia: sobreviver politicamente agradando a Roma.

A sua reputação de homem astuto era amplamente conhecida. Não é por acaso que Jesus lhe chama “a raposa” — um animal associado à esperteza, mas também à falta de nobreza e à evasão da responsabilidade.

Uma vida marcada pelo excesso

Nos Evangelhos, Antipas é frequentemente referido apenas como Herodes, o que por si só revela a confusão moral e política da época. A sua vida privada era dissoluta, e a mesa ocupava um lugar central na sua forma de governar e de se afirmar socialmente.

Antipas gostava de comer em abundância, de oferecer banquetes frequentes e de rodear-se de convidados ilustres. Por vezes, até o próprio imperador figurava entre os convivas. Estes banquetes não eram apenas refeições: eram espectáculos de poder, ocasiões para exibir riqueza, sofisticação e domínio.

Para os cozinheiros da corte, cada banquete era um desafio. Esperava-se que superassem constantemente os pratos anteriores, elevando a culinária a uma competição silenciosa. A mesa tornava-se palco de criatividade, mas também de vaidade.

A sofisticação dos ingredientes

Entre os pratos associados a este contexto surge a Salada Real de Beterraba, um exemplo de como ingredientes simples podiam ser elevados a símbolos de distinção. Segundo Plínio, já se cultivavam nesta época duas variedades de beterraba: uma de verão e outra de inverno, o que revela um conhecimento agrícola refinado e uma preocupação com a diversidade alimentar ao longo do ano.

Esta atenção aos produtos da terra encontra paralelo na realidade portuguesa, onde a beterraba, tal como outros legumes humildes, faz parte tanto da cozinha popular como de interpretações mais sofisticadas da gastronomia contemporânea. A diferença, ontem como hoje, reside menos no ingrediente e mais na intenção com que é servido.

O banquete que mudou tudo

A queda de Antipas começou num momento aparentemente festivo: o banquete de aniversário referido no Evangelho de Marcos (6:21). Foi nesse contexto de excesso e ostentação que Salomé, sua sobrinha e enteada, apresentou a dança que ficaria para sempre ligada a este episódio trágico.

Encantado e embriagado pelo ambiente, Antipas prometeu conceder-lhe tudo o que pedisse. O pedido foi devastador: a cabeça de João Batista. João tornara-se incómodo por denunciar publicamente a união de Antipas com Herodias, anteriormente casada com o seu meio-irmão Filipe.

A decisão, tomada num momento de leviandade, teve consequências profundas. O assassinato de João Batista abalou seriamente a autoridade moral e política de Antipas. Um governante que manda matar um profeta por causa de um juramento feito num banquete revela a fragilidade do seu poder.

Entre Pilatos e o silêncio

Mais tarde, durante a Páscoa em Jerusalém, Antipas cruzou-se novamente com a história da salvação. Foi a ele que Pôncio Pilatos enviou Jesus, usando como pretexto o facto de Jesus ser galileu. Antipas, porém, limitou-se a escarnecer e a devolvê-Lo a Pilatos, perdendo mais uma oportunidade de agir com justiça.

O silêncio e a ironia substituíram a coragem.

O fim do favor

Em 39 d.C., Antipas foi finalmente deposto, ironicamente por ação de um sobrinho. Tal como outros governantes da sua linhagem, acabou afastado do poder que tanto procurara preservar através da bajulação e do excesso.

O homem que viveu rodeado de mesas fartas e promessas fáceis terminou longe do centro da história.

Uma reflexão à mesa

A história de Antipas é um aviso claro: o poder sustentado pelo excesso e pela astúcia raramente resiste ao tempo. Os seus banquetes ficaram na memória, não pela qualidade da comida, mas pelas decisões trágicas que neles foram tomadas.

Também hoje, numa sociedade onde a abundância pode facilmente conduzir à distração moral, esta narrativa convida à reflexão. Nem toda a mesa farta é sinal de verdadeira prosperidade, e nem toda a sofisticação esconde sabedoria.

Na tradição portuguesa, onde a mesa é lugar de encontro, verdade e partilha, a figura de Antipas recorda que o que se decide à mesa pode ter consequências que ultrapassam o momento. Porque, no fim, não é o banquete que define o homem, mas as escolhas que faz quando todos os olhos estão sobre ele.  myfoodstreet.pt  2025

 

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