
Um ecossistema silenciosamente perturbado O que acontece quando se interrompe uma dança milenar entre um vírus e a planta que lhe servia de habitat? Que equilíbrios invisíveis se rompem quando essa relação — por muito indesejada que seja à escala agrícola — é quebrada por engenharia genética? Entre a planta hospedeira e o vírus agora “desalojado”, abre-se um vazio. E entre esse vírus e outros vírus “hostis”, ou mesmo entre os próprios vírus, estabelecem-se novas disputas silenciosas, novas estratégias de sobrevivência, adaptações desconhecidas. Estamos a desenhar alterações num palco biológico que não compreendemos completamente, mas do qual dependemos profundamente. As consequências destas manipulações permanecem, em larga medida, especulativas. Mas o mais inquietante é o hábito crescente de ignorar deliberadamente essa ignorância. “Tentaremos esclarecer os possíveis efeitos antecipadamente”, disse um ecologista. Mas antecipar o desconhecido é uma promessa com prazo de validade curto. A validade de qualquer estudo preliminar não pode ser maior do que a profundidade do nosso conhecimento ecológico — e esse, na maioria dos casos, é superficial.
Um carvalho, 250 vidas Toma-se, por exemplo, o caso do carvalho. Um único carvalho adulto pode albergar até 250 espécies animais diferentes — desde insetos, aves, microrganismos, fungos. Vivem nele, através dele, com ele. Mas quantas destas relações compreendemos verdadeiramente? Quase nenhuma. Sabemos que existem, mas não sabemos como se transformam ao mínimo toque, ao menor desequilíbrio. E, ainda assim, avançamos com intervenções genéticas em plantas, sem saber quem nelas vive, o que ali se alimenta, e o que ali depende da delicada teia da vida.
A promessa vazia de controlo É de temer — com fundamentos — que muitos dos supostos triunfos da engenharia genética sobre pragas, ervas daninhas ou doenças vegetais acabem por revelar-se autênticas vitórias de Pirro. Conquistas técnicas que, no fundo, nos custam demasiado. E tudo isto acontece num contexto alarmante: a iminente comercialização global da engenharia genética. A pressão económica para cultivar, vender, exportar e consumir plantas transgénicas cresce de forma descontrolada.
Comer o que não se vê Grande parte desses novos produtos “melhorados” — vegetais, cereais, frutas — são cultivados para alimentação humana. São consumidos crus, cozinhados ou transformados em produtos industriais onde a sua origem vegetal quase desaparece por completo. E é aí, nesse espaço aparentemente inócuo do consumo, que novos riscos alimentares emergem silenciosamente. Cada gene introduzido cria uma nova proteína estranha ao sistema da planta. Essa proteína não existia antes. Não pertence à cadeia natural da vida. Mas agora está presente — e é ingerida. Entra no nosso corpo através de uma torrada, de um sumo de fruta, de um pão de supermercado. Entra com o aspeto inocente de um alimento, mas transporta consigo uma história genética que não conhecemos — e cujas consequências ainda menos sabemos prever.
Quando o prato é um campo de batalha A cada nova planta resistente aos herbicidas, estamos também a ingerir resíduos dessas substâncias químicas, que se armazenam nas paredes celulares dos vegetais. Substâncias estas que, ao entrarem no organismo humano, trazem efeitos desconhecidos ou pouco estudados a longo prazo. O mesmo se aplica às toxinas Bt, agora incorporadas nas plantas para eliminar insetos herbívoros. Essas toxinas passam a fazer parte do próprio alimento, tal como as proteínas de vírus geneticamente modificados, utilizadas para imunizar as plantas — mas ingeridas por nós. Estamos a comer mais do que pensamos. Estamos, literalmente, a consumir as ferramentas criadas para a guerra biológica contra o mundo natural.
???? Entre a necessidade e a negligência É compreensível querer proteger as colheitas, aumentar a produtividade, combater pragas. Mas até que ponto estamos dispostos a pagar esse preço — e a quem estamos realmente a cobrá-lo? A engenharia genética surge como solução para problemas urgentes… mas fá-lo sem respeitar a lentidão necessária para entender a vida. Age rápido, onde era preciso pausar. Age com lógica, onde era preciso sensibilidade. Age com poder, onde era preciso humildade.
Voltar a confiar na biodiversidade A biodiversidade não é uma ideia abstrata. É um sistema de resiliência natural, uma teia de vida interdependente, que já demonstrou, inúmeras vezes, saber equilibrar pragas, adaptar-se às mudanças, regenerar-se após crises. Mas para isso, precisa de tempo, espaço e respeito. Precisa que sejamos mais jardineiros e menos engenheiros. Mais guardiões do sabor — e não arquitetos do sintético.
???? O sabor que resiste No fundo, tudo começou com o sabor dos tomates. Mas a viagem levou-nos até à essência do nosso papel no mundo. Salvar o sabor dos tomates não é apenas proteger um alimento — é proteger o equilíbrio. É defender um modo de viver, de cultivar, de comer com verdade, com ligação, com consciência. Porque cada tomate com sabor é, hoje, um ato de resistência. E cada escolha que fazemos à mesa, é também uma escolha sobre o futuro que queremos semear.
Se esta reflexão te tocou, partilha. Não para espalhar medo — mas para semear atenção. Porque, talvez, a maior revolução esteja em voltar a confiar na terra. by myfoodstreet.blog 2025


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