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Os Frutos do Mar da Galileia

Peixe, pão e esperança à beira da água

Ao longo de toda a costa do Mar da Galileia, a pesca constituía a principal atividade económica e o eixo em torno do qual girava a vida quotidiana. Era um trabalho duro, repetitivo e profundamente comunitário. Durante o dia, as redes eram remendadas, os barcos reparados e as histórias partilhadas, enquanto se aguardava a noite — o momento mais favorável para lançar as redes. As mulheres e as crianças limpavam o peixe, salgavam-no e preparavam-no para o transporte e a venda.

A partir destas margens, o peixe seguia para norte até Damasco, para sul até Jerusalém e, através das rotas mediterrânicas, chegava mesmo a regiões longínquas como a Península Ibérica, onde hoje se encontra Portugal. Esta ligação antiga entre o Levante e o extremo ocidental da Europa recorda que o comércio alimentar sempre foi uma ponte entre culturas.

Genesaré: uma terra onde tudo floresce

Na costa norte do Mar da Galileia estende-se a planície fértil de Genesaré, um lugar central na vida pública de Jesus. Foi ali que ensinou, curou e falou às multidões. O historiador Flávio Josefo descreve esta região com admiração quase poética, sublinhando a sua fertilidade excecional e a convivência improvável de plantas de climas opostos.

Segundo ele, nogueiras, palmeiras, figueiras e oliveiras prosperavam lado a lado, como se a natureza tivesse suspendido as leis normais das estações. As colheitas sucediam-se ao longo de quase todo o ano, sustentadas por uma nascente abundante que irrigava os campos. Era uma terra onde a abundância não era exceção, mas condição natural.

Esta descrição encontra eco na realidade portuguesa, sobretudo em regiões como o Ribatejo, o Baixo Mondego ou o vale do Tejo, onde a proximidade da água transforma a terra em sustento e identidade.

O milagre da partilha

É neste cenário que o Evangelho de Lucas situa a multiplicação dos pães e dos peixes. A multidão escutara Jesus durante todo o dia. Ao cair da tarde, surgiu a preocupação prática: como alimentar tanta gente? A resposta não veio de um mercado, mas de um gesto simples.

Um jovem tinha cinco pães de cevada e dois peixes — alimento humilde, típico do povo. Jesus tomou-os, ergueu os olhos ao céu, deu graças, partiu-os e distribuiu-os. Todos comeram, ficaram saciados, e ainda sobraram doze cestos.

“Todos comeram e ficaram saciados.” (Lucas 9:16–17)

Este episódio não fala apenas de um milagre físico, mas de algo mais profundo: a abundância nasce quando se partilha o pouco. Uma verdade que continua atual numa sociedade onde, apesar da fartura global, tantos continuam a passar fome.

Redes vazias, esperança renovada

Após a crucificação, os discípulos regressaram ao que sabiam fazer: pescar. Era um regresso marcado pelo desalento. Trabalharam toda a noite e nada apanharam. Ao amanhecer, um homem surgiu na margem e perguntou se tinham algo para comer. A resposta foi curta e honesta: “Não.”

A instrução seguinte mudou tudo: “Lançai a rede do lado direito do barco.” A rede encheu-se de tal forma que mal a conseguiam puxar. Só então perceberam: era Jesus.

“Por causa da grande quantidade de peixe.” (João 21:4–6)

Também aqui, o peixe não é apenas alimento. É sinal de presença, de orientação e de recomeço. Quantas vezes, também hoje, depois de noites infrutíferas — pessoais ou coletivas — é preciso ouvir uma voz diferente para reencontrar sentido?

Comer para acreditar

O Evangelho de Lucas relata outro momento de profunda humanidade. Após a ressurreição, Jesus aparece aos discípulos, que ainda lutavam entre a alegria e a incredulidade. Para os tranquilizar, faz algo surpreendentemente simples: pede comida.

Deram-Lhe um pedaço de peixe assado e mel do favo, e Ele comeu diante deles.

“Mas eles ainda não acreditavam, de tanta alegria.” (Lucas 24:41–42)

Comer juntos torna-se prova de realidade, de continuidade, de vida. Em Portugal, onde a mesa continua a ser lugar de confirmação dos laços — familiares, sociais e espirituais — este gesto é profundamente reconhecível.

Da mesa à missão

Depois de comer com eles, Jesus explicou as Escrituras, começando por Moisés e pelos Profetas. A compreensão abriu-se, o medo dissipou-se. Quando se afastou em Betânia, desapareceu da vista, mas não do coração. Os discípulos regressaram a Jerusalém com grande alegria e coragem renovada.

O peixe, o pão e o mel — alimentos simples, quotidianos — tornaram-se instrumentos de revelação e envio. Não foi num palácio nem num banquete régio, mas à beira da água e à volta de uma refeição humilde, que a esperança se reacendeu.

Uma herança que continua viva

Os frutos do Mar da Galileia recordam que a fé nasce no quotidiano, no trabalho repetido, na partilha do alimento e na escuta atenta. Também na realidade portuguesa, marcada pela pesca artesanal, pelo peixe grelhado, pelo pão repartido e pelo tempo passado à mesa, esta herança encontra ressonância profunda.

Porque, ontem como hoje, há encontros que mudam tudo — e muitos começam com uma pergunta simples: “Tendes algo para comer?”  myfoodstreet.pt  2025

 

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