
Os Pastores de Belém: Simplicidade, Vigília e o Alimento da Esperança A figura do pastor, das ovelhas e do rebanho percorre toda a Sagrada Escritura como um fio contínuo e profundamente humano. É uma imagem de cuidado, responsabilidade e proximidade, que atravessa séculos e culturas. Cuidar de um rebanho não era apenas uma profissão — era um modo de vida que moldava o ritmo dos dias, a alimentação, a fé e a relação com a terra.
Viver do rebanho Os primeiros pastores dependiam inteiramente dos seus animais para sobreviver. A ovelha fornecia carne, leite, lã, gordura e peles — tudo o que era necessário para comer, vestir e habitar. A Bíblia fala desta relação sem idealizações: “O povo lançou-se sobre os despojos… e comeram a carne com o sangue.” (1 Samuel 14:32) A urgência da fome e a dureza da vida pastoral explicam gestos que hoje parecem estranhos, mas que revelam uma existência sempre à beira da escassez. Também a riqueza se media em rebanhos: “Mesa, rei de Moabe, possuía muitas ovelhas…” (2 Reis 3:4) A ovelha era moeda, sustento e sinal de prosperidade.
Vestir, habitar, oferecer Da lã faziam-se as vestes; das peles, as tendas; dos animais, os sacrifícios rituais. Tudo estava interligado: “Não deveriam os pastores apascentar o rebanho?” (Ezequiel 34:2–3) “Façam para mim um altar… sobre o qual oferecerão as vossas ovelhas e os vossos bois.” (Êxodo 20:24) Até as instruções para as habitações incluem referências diretas ao rebanho: “Sobre a tenda fareis uma cobertura de peles de carneiro tingidas de vermelho.” (Êxodo 26:14) Nada se desperdiçava. A vida pastoral ensinava sobriedade, aproveitamento e respeito pelo ciclo natural.
Comer quando era possível Cuidar de um grande rebanho exigia atenção constante. Havia sempre o risco de animais selvagens, ladrões ou perdas inesperadas. Por isso, o pastor e a sua família comiam quando surgia oportunidade, não quando o relógio mandava. A alimentação era simples e substanciosa: pão rústico, queijo fresco, leite, leguminosas, hortaliças, azeitonas e, ocasionalmente, carne. Pratos fáceis de preparar, pensados para sustentar o corpo durante longas vigílias e caminhadas. As crianças começavam a ajudar desde muito cedo. Ainda hoje, na região de Belém, é possível ver crianças pequenas a correr descalças por encostas pedregosas, à procura de um cordeiro perdido, repetindo gestos milenares.
Pastos que atravessam o tempo A norte da antiga muralha de Jerusalém existe, desde tempos remotos, uma porta especial para as ovelhas. Por ela ainda passam rebanhos nos nossos dias, ligando o presente ao passado de forma quase comovente. A raça mais conhecida sempre foi a ovelha de cauda larga, cuja cauda, rica em gordura, podia pesar vários quilos. Essa gordura era usada na cozinha, como fonte preciosa de energia, tal como em Portugal se usou durante séculos a banha ou o toucinho. Mesmo fora das portas da Jerusalém moderna, os pastos continuam ativos. As ovelhas espalham-se pelas encostas e os pastores vigiam-nas de forma muito semelhante à dos seus antepassados.
A noite que mudou tudo Foi nesses mesmos campos que, numa noite comum de vigília, pastores anónimos viram um anjo do Senhor e ouviram uma notícia que mudaria a história: o nascimento de uma criança que se tornaria o Bom Pastor. Não foram reis nem sacerdotes os primeiros destinatários da mensagem, mas homens simples, habituados ao frio da noite, ao silêncio e à espera.
Os campos de Boaz e a herança Ali perto encontram-se também os campos de Boaz, onde Rute colheu espigas de trigo — ambos antepassados de David e de Jesus. A continuidade entre pastoreio, agricultura e história da salvação torna-se evidente. Os produtos desses campos e das hortas simples cultivadas pelas esposas dos pastores — cereais, legumes, ervas, frutos — eram utilizados para preparar as refeições do dia a dia. Uma cozinha humilde, mas profundamente ligada à terra.
Uma mesa feita de vigília e esperança A mesa dos pastores de Belém não conhecia luxo, mas conhecia partilha, resistência e esperança. Também na tradição portuguesa, marcada por pastores, transumância e refeições simples no campo, esta imagem encontra eco. A história dos pastores recorda que as maiores revelações acontecem muitas vezes longe dos palácios, junto de uma fogueira improvisada, com pão nas mãos calejadas e os olhos atentos à noite. Porque, naquela noite, o céu falou primeiro aos que sabiam esperar. myfoodstreet.pt 2025



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